23 dezembro 2007

Metapoesia

“La Metapoesía es una poética onírica. Metaonírica. Es una ficción paranoica del decir. La irracionalidad del deseo en la escritura. La psicosis de la palabra en el lenguaje: Metalenguaje. Es una necesidad analítica en el poema: Metapoema. El Poema no existe sólo existe el Metapoema” . (1)


Já há algum tempo que quero dizer algo sobre Metapoesia.


Metapoesia é um assunto que me atrai. E muito. Escrevi metapoemas sem saber que eram metapoemas (O Nascimento da Poesia e Poesia Explícita).
Recentemente, há uns 2 ou 3 meses atrás, lendo uma crônica do Ferreira Gullar, me deparei com a palavra Metapoesia.


Por não conhecê-la, me achei uma total desinformada; mas, no entanto, ao mesmo tempo, percebi que tudo era apenas uma questão de nomenclatura, de rótulos, pois a metapoesia já havia nascido dentro de mim, mesmo que eu não soubesse seu nome. (que romântico!)


Desde que a senti em mim, a nomeei como poesia sobre poesia.


Pois bem, poesia sobre poesia ou metapoesia, ou ainda , “a poesia por ela mesma” (2) é uma necessidade natural que se revela e se impõe no fazer poético, metapoesia não é uma escolha, é uma revelação! É o devir onírico da poesia...!


Em termos mais didáticos e menos poéticos, podemos dizer que a metapoesia desvela ao leitor, o processo criativo do autor. Isso pode ser demonstrado claramente nos metapoemas Autopsicografia e Isto de Fernando Pessoa, sendo o primeiro, um metapoema bastante conhecido. Vejamos abaixo, os dois metapoemas:



Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé.
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Segundo William Lial (3), acontece nestes dois poemas , “(...) o fenômeno literário da inter-relação autor/texto/leitor, que se trata da união entre a mente criativa do autor, somada a sua produção em texto (que já é uma interpretação da sua verdade), mais o complemento do leitor, que contribui com o texto através da sua própria interpretação.”

Assim, a metapoesia proporciona uma “viagem” metalingüística à mente do autor; aproximando este do seu leitor de maneira mais íntima, compartilhando, além do seu poema, o seu processo criativo.


Notas e Referência:

(1) Escuela-Movimiento Internacional Metapoesía (MIM): http://metapoetas.blogspot.com/

18 outubro 2007

Poemas no velho e amado papel...

Por mais que a net seja fantástica (e é), pois podemos expor por meio dela nossas idéias, escritos, poemas, etc...ter uma de nossas produções intelectuais publicadas no velho papel é sempre uma grande realização!

Participei do livro Antologia Dellicatta II e os
poemas Mostrei Calmaria à Maria e Indícios
saíram publicados nele!

Os mesmos podem ser lidos aqui; mas,
estão lá, registrados, até quando e quanto dure o papel!

18 setembro 2007

Terceira Galáxia Poética

Aqui vai um escrito que faz parte da minha Terceira Galáxia Poética; no entanto, é um escrito antigo...


A PALAVRA



Amor, palavra ambígua, palavra gasta que não mais designa (ou nunca o fez), aquilo que representa.
Já nos aconselhou o poeta para que não facilitemos com a palavra amor, que não a joguemos no espaço como bolha de sabão:

“Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro)” (...)
(...) ” Não a pronuncie”. **

Amor, palavra poderosa, que enche a boca de quem fala e o ouvido de quem ouve.
Faz voar a imaginação, ludibria seus incautos pronunciantes e reveste com fina pátina a carne desejante, que assim travestida, dá-se ao gozo.
Mas não se faz gozo, faz-se amor, porque isso sente quem ao gozo dá-se.
Mas, findado o gozo, por findar-se o desejo, se finda o amor.
Gozo curto, amor finito.
Não ouviram a voz do poeta.
Agosto/2004

** O Seu Santo nome, Carlos D. de Andrade

11 setembro 2007

Off Topic e Um Escrito Poético

Delírio de amor, utopia, sonho impossível....
Falar de amor é tudo isso...
Por mais que nos apaixonemos, estamos sempre sós...no nosso sentimento, no nosso amor...(sentir, amar, pensar, é um ato solitário - por mais compartilhado que ele possa ser)
O amor idealizado, cúmplice, até chega a existir, mas é efêmero - dura, enquanto dura a paixão....
Todos que já se apaixonaram (uma ou mais, ou muitas vezes!) sabem disso....
Mas porque então, ele dá tanto o que falar? Ou melhor, dá tanto o que escrever?

Porque, acredito eu, tanto quanto estar apaixonado, escrever sobre tal, é muito bom!

Bem, aqui vai mais um delírio...de amor....escrito.



UM NOVO OLHAR


Sonho com a paz do seu abraço verdadeiro.
Com a tranqüilidade dos teus olhos a observarem os meus.
Embora o amor não seja só redenção, sonho com o calor do seu toque de amor sincero entrando em minha vida.
Com sua voz doce a me sussurrar que o sol já está se pondo, que a lua já está alta e ilumina o nosso jardim.
Sonho com o teu meio sorriso a me fitar quando falo sandices exaltadas.
Sonho com o teu sorriso inteiro a me envolver quando falo algo com o qual concordas veementemente.
Sonho com o teu hálito se misturando ao meu quando cochichamos, mesmo estando somente nós dois, a fim de que nossas conversas configurem-se em segredos só nossos.
Sua calma recente e sua doçura sincera me enchem de desejo verdadeiro, de amor despertado, que outrora adormecido se mantinha, anestesiado pela secura dos teus antigos olhos.
Sonho com esse novo tempo,
com seu novo andar,
com seu novo olhar.




Abr.2007

Terceira Galáxia Poética

O NOVO MUNDO
(poema-narração-experimentação)



I – PROFETIZAÇÃO



Quando a sobrecarga elétrica
provocar a grande explosão
que iniciará o Novo Mundo,
todos os seres vivos libertar-se-ão
do peso corpóreo e adquirirão
a vontade de transcender a matéria.
Nos mares, nos ares e
na terra abençoada que surgirá,
cujos picos das montanhas serão
altares de louvores à vida e à criação,
poderão fazer sua morada.


Quando um novo sol
se formar no Novo Mundo,
e sua jovem luz brilhar,
todos nela poderão banhar-se.
Poderão deslizar pelo constante arco-íris tatuado no céu, e assim,
comporão em seus corpos, todas as cores do mundo!


Quando o que existe atrás
do horizonte se mostrar,
navegarão por mares e terras e ares
nunca d’antes percorridos.



No espetáculo do Novo Mundo,
acariciarão a cauda dos pássaros
e contemplarão o abrir das asas da garça branca.
Ouvirão o troar do amor,
que, no Novo Mundo,
espalhar-se-á epidemicamente


Verão o nascimento da árvore branca,
cujas folhas, enquanto brilharem,
sinalizarão o equilíbrio entre os seres
do Novo Mundo, e o próprio mundo.

Do ventre de todos os seres vivos,
seres semelhantes brotarão,
na comunhão de um único sexo!


Excerto – I

Como explicar (narrar) num poema,
O nascimento de um mundo?
Tal tarefa, de tão alta importância,
Não pode à mim ser outorgada,
E sim, a algum fulgurante poeta!
Pois eu, iniciante que sou,
Sem experiência no ofício,
Talvez não consiga dimensionar
A magnitude do fato....
Nem impressionar com meu ato,
De linguagem modesta (embora
Com certa eloqüência),
Os eventos acontecidos...


II – ANUNCIAÇÃO

Os tambores emitem clangores
bum bum bum bum bum bum
Os clangores são emitidos pelos tambores
bum bum bum bum bum bum bum bum

Protejam seus ouvidos
bum bum bum bum bum bum
Para não enlouquecerem
bum bum bum bum bum bum

Os tambores avisam
bum bum bum bum bum bum
Os clangores metem medo
bum bum bum bum bum bum

Lutem ou fujam
bum bum bum bum bum bum
refugiem-se nas montanhas
bum bum bum bum bum bum
pois os clangores estão mais altos
bum bum bum bum bum bum bum

O Novo Mundo está para nascer!
bum bum bum bum bum bum bum
quando cessarem-se as vozes dos tambores,
bum bum bum bum bum bum bum bum bum
a fuga não será mais possível
Bum bum bum bum bum bum

O Novo Mundo estará surgindo!
bum bum bum bum bum bum
só perecerão os contrários à sua ação!
bum bum bum bum bum bum bum bum


III – NASCIMENTO

No silêncio total,
rompe-se a terra,
rasga-se o céu,
o oceano vira terra,
e a terra vira água.
O sol mingua e lua se agiganta!
A neve cai e derrete, cai e derrete...
Os antigos ares são sugados para fora dos espaços terrestres,
muito além da borda do planeta, muito além do mundo sideral.

Muito além da nossa imaginação, o Novo Mundo começa a nascer,
das entranhas do infinito, ele surge e urge!
Muge e berra!
Grita o grito do recalque infinito, há milhões de anos guardado
na abissal garganta do mundo!
Dos ventres da mãe sideral e do pai astral que, fundidos,
formam o infinito gerador,
nasce o Novo Mundo!




Excerto – II

Como vc pôde ler, caro leitor,
Tal grandiosa tarefa,
Esta de narrar este evento monumental,
Precisei aceitar!
Dissuadir não consegui,
Aqueles que de tal tarefa me incumbiram!
Tampouco também consegui,
Arrumar outro poeta.
Mesmo que principiante como eu,
Para tal poetização!
Assim, nada mais me restou,
A não ser abraçar o intento!
Sonhar, imaginar, elaborar...
E escrever as letras.
(espero que a contento...!)



Nov./Dez.06 e Fev.07

23 julho 2007

Terceira Galáxia Poética

O mar é lindo de morrer! (e de viver)

Amo o mar.
Eu, que não sei nadar....
que só sei vagar,
que só sei pensar.

Amo o mar.
Apesar de não saber nadar,
de não saber remar,
e de só saber amar...

Amo o mar.
Eu, que não sei remar,
que não sei navegar,
que vago à deriva,
apesar da mão pousada sobre o leme...

Amo o mar.
E, apesar de não saber nadar,
mergulho fundo,
sem medo de me afogar.
No profundo oceano
dos sentidos.
Pois só sei amar...

Amo o mar.
Eu, que não sei navegar,
que só sei pensar,
que só sei doar...
o meu amor.
Para quem sabe
a vela içar,
e o leme manejar...

Amo o vento.
Que revolve o mar,
e que pode me levar,
se eu souber voar (já que não sei nadar),
aonde o azul do mar
encontra o azul do céu.

abril/2007

21 julho 2007

Off Topic: A ENERGIA MENTAL DO AMOR

Para onde vai a energia produzida pela mente?
Perde-se no ar, inaproveitada?
Essa questão me veio um dia, quando, totalmente desiludida com um amor não realizado, pensei: Quanta energia gasta em vão! Quanta energia para a conquista desse amor gasta à toa! Quanto desperdício!
Após essa “constatação”, imediatamente lembrei-me de uma notícia na televisão sobre uma Feira de Ciências, na qual alunos do segundo grau expunham suas invenções.
Uma delas me chamou a atenção, constituindo-se num invento bastante interessante, por meio do qual aproveitava-se a energia gerada numa academia de ginástica, mais especificamente, a energia produzida numa aula de spinning.
Não me recordo agora, como as garotas inventoras fizeram para aproveitar a energia, mas a idéia base é a mesma: como aproveitar toda a energia gerada numa aula de spinning? E como reaproveitar toda a energia empregada no pensamento? Neste caso, o pensamento direcionado para o amor (sabemos que a energia gasta nesse campo não é pouca!).
Viajando um pouco, acredito que neste segundo caso de reaproveitamento de energia, a complexidade deste intento seria bem maior que no primeiro caso; e, até já imaginei as pessoas apaixonadas e empenhadas na conquista de seus amores, usando capacetes contendo eletrodos que “puxariam” (sei lá como!) sua energia mental e a transfeririam para outro lugar.
Imaginem quantos anseios, dúvidas, suposições, planos de conquistas, ciúmes, decepções, frustrações, alegrias, realizações, medos, atração sexual, etc., etc., - tudo isso, muitas vezes, num único dia!
Quanta energia! Quantas usinas de energia ambulantes!
Para onde vai toda essa força energética? Perde-se totalmente? Como seria possível re/aproveitá-la?
Alguém tem alguma idéia?

Jun./07

Terceira Galáxia Poética

A LENDA


O amor está morto.
E ninguém percebeu.
Ninguém atentou,
ninguém chorou.
Quem amou, amou sem perceber,
que não podia estar amando,
pois o amor já estava morto.

E, nesse pesar absorto,
amaram-se os incautos,
os levianos, os ingênuos e os idealistas.
Amaram-se também,
os usurpadores da palavra amor.

O que fazem estes,
Em nome do jazente sentimento:
lascívia, luxúria, traição e morte.
Ignominiosamente, com tais atos,
maculam a memória do amor.

Na eterna lápide onde jaz
o sentimento morto, lê-se:
“Aqui jaz o Amor...
Nati-morto sentimento
Nati-morta sensação do espírito
Nati-morta aspiração da alma...”

Há quem diga, que o amor
não chegou a ser gerado; portanto,
nem nascido, nem nati-morto
pode ter estado...

O que jaz então,
no túmulo do amor?
Será uma lenda a nati-morta
existência do amor?
Será então, o seu utópico fantasma ,
prematuro e pueril,
aquele que aquece os corações
dos que acreditam amar?

Oh! Execrável desilusão!
Nem a alma do nosso morto amor
habita os dias do mundo!

Exijamos a exumação do amor!
E, se tais suspeitas se confirmarem,
perpetue-se então, a lenda!
Disseminem-na pelas gerações vindouras
e deixem que com ela todos se refestelem!



16.02.07

20 julho 2007

Livros Viajantes: O Amante do Vulcão

Comprei O Amante do Vulcão num sebo por acaso. Procurava alguma literatura interessante quando me deparei com esse livro. O que me chamou a atenção para comprá-lo foi o fato de sua autora ser Susan Sontag. Conhecia sua fama e fiquei muito curiosa para ler um romance escrito por ela, pois até então havia somente lido alguns artigos de jornais de sua autoria.
Nas primeiras páginas achei-o um pouco cansativo, mas, pouco depois foi ficando muito interessante e curioso, e não consegui deixar de lê-lo até o fim, com bastante satisfação!
A história é simples e linear, no entanto, seus personagens históricos e seu pano de fundo histórico dão uma incrível sensação de se estar lendo um importante e interessante episódio da História Européia.
Tudo começa em Nápoles nas décadas de 1760-1770 (não me lembro exatamente, na pré-revolução francesa) e termina na Inglaterra em 1815; sendo o personagem principal Sir William Hamilton, embaixador inglês no Reino das Duas Sicílias (A Itália ainda não era um país unificado) e famoso colecionador de arte, (ah! e estudioso apaixonado por vulcões - no caso, o Vesúvio!); e evolui para seu casamento com Lady Emma, uma cortesã inglesa anteriormente amante de seu sobrinho. No decorrer de suas vidas ela torna-se amante do Almirante e Herói inglês, Lorde Nelson, famoso por vencer a batalha marítima de Trafalgar.
A grande sacada é a não-nomeação do trio principal de personagens - William Hamilton é chamado de “O Cavaliere”, sua esposa de “ A esposa do Cavaliere”, e Lorde Nelson de “O Herói”; e, sendo os mesmos assim “poupados” de seu papel histórico, o seu perfil psicossocial pode ser bastante explorado pela autora, nos proporcionando acompanhar suas vidas e interesses pessoais com bastante curiosidade.
Há também um desfile delicioso de outros personagens históricos, como a Rainha de Nápoles - irmã da Rainha Maria Antonieta da França, Napoleão, Goethe, e uma heroína portuguesa chamada Leonor da Fonseca Pimental (existem outros, que agora não me vêm à mente!)
Enfim, um livro pra lá de “viajante”, e elegantemente bem escrito!

22 maio 2007

Terceira Galáxia Poética

Mostrei "Calmaria" à Maria


Inspirada pela poesia “Calmaria” de Nicolas Guto *


Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à natureza sagrada.
E assim, lavasse sua alma
na água corrente dos arroios.


Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à memória de um passado talvez, cheio de alento,
mas que com o vento, se foi.
E assim, libertasse sua alma para o futuro,
mesmo que esse fosse de apenas um dia.


Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
aos confins de seu próprio coração,
e que lá dentro acendesse uma vela
e procurasse um sentimento novo,
uma nova razão e um novo irmão.


Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à jornada (para uns, curta; para outros, longa)
inevitável da vida e que, aportando na maturidade,
venha à porta lhe receber, a serenidade;
sorridente, apesar dos percalços da viagem.


14.03.2007




* http://nicolasguto.zip.net/arch2006-12-01_2006-12-31.html

15 maio 2007

Terceira Galáxia Poética

POESIA EXPLÍCITA

Construtos poéticos arraigados
na mente.
Arraigados na pele,
no cerne e no cérebro.
Poesia na carne!
Poesia na veia!

Madeleines afogadas no chá,
pisoteadas por uma mente
sem resquícios de lembranças...
Poesia Bruta!

Poema seco!
Num beijo salgado.
Um olhar surreal
para a poesia nascida
da secura do coração
que aguarda a temporada
das águas...

A coragem e a covardia
O medo e a insegurança
Num poema insano!
Em uma vida sem danos.

Uma vida.
Poucos planos.
Poesias que emergem.
Versos que se submetem
a explicitar a vontade
de um poema sujo
de um poema pesado
de um poema vigoroso,
pomposo, falacioso...
Por que não?!

Poesias, poemas, versos,
rimas, frases...idéias.
Círculo de vícios e tônicos.
Vigor da mente
que sente
a poesia latente!

Poesia que escuta
o coração ladrar
o corpo falar
a mente querer.
Poesia que bate,
que late,
e abriga
a vida nascida
e vivida pelo andar
da poesia surgida!

Poesia precoce!
Que se alimenta do leite materno
em terno aconchego.
No peito cheio, morde
e vibra, suga e se deleita!
Aproveita e adia
o crescimento da poesia premente!

Abrupto poema!
Nascido da primeira frustração
do primeiro desamor experienciado
em alienado universo.
Aos poucos exilado,
em ilhada literatura.
Profícuos poemas encontrados e
escritos à mão!

Poesia que tarda, que falha,
que amarga a boca
em escatológica sinfonia
com o desgaste da esperança.
Mas que cria e recria
a vontade da escrita.
E restaura a construção
do Poema Primal,
cuja subjacência conserva
em doce berço de inocência,
a vital intuição da escrita.


07.02.07

09 maio 2007

Terceira Galáxia Poética

Bom, aqui estamos nós em mais um postagem poética....desta vez, mais uma poesia minha, constante esta, da minha Terceira Galáxia Poética:


COMO NÃO PENSAR

Para não pensar,
Escrevo e penso.
E deixo transbordar o que de mim me incomoda
O que em mim não existe
O que em mim,
Persiste.

Para não pensar
Transformo sentimentos em palavras
Sensações em versos
Obsessões em poemas

Dou forma aos sentimentos para não pensá-los
Construo poesias para não sucumbir,
Para não cair, para não desmontar
A milimétrica edificação da satisfação
(e da sanidade?)

Poetizo o karma
Amo pelos versos
Satisfaço-me na concepção das proles
E na “dura escritura”
Pensada para não pensar,
E salutarmente despejada no papel.


(salve o papel, a caneta e os computadores!)

Jan.e fev./07

20 abril 2007

Livros Viajantes

Adoro ler “livros viajantes”.
Mas o que são eles? Como o próprio rótulo diz, livros que nos fazem viajar...
Os meus preferidos são os de realismo fantástico (tipo Italo Calvino), os propriamente fantásticos (Tolkien), e os que não são nem uma coisa nem outra, mas que são pura literatura das boas, e igualmente viajantes , etc., etc.....
Listarei nesta seção os “livros viajantes” que já li e “viajei”.
Vou deixar também minhas impressões sobre cada um deles, mas sem consultar nenhuma fonte. Escreverei o que eu lembrar para mostrar que eles realmente me marcaram muito! (boa desculpa para uma “preguicinha” de pesquisar algo sobre os mesmos!)
Mas, brincadeiras à parte, acho realmente que, se nós nos lembramos bastante de um livro, é porque ele nos marcou, tanto por termos gostado dele ou por tê-lo odiado (quanto a este último, para mim será difícil escrever sobre algum, pois quando não gosto, não leio até o fim!)
No meu caso, os livros sobre os quais escreverei, me marcaram pelo seu encantamento literário e poder de proporcionar uma bela viagem!



A Montanha Mágica, de Thomas Mann

Bom, esse livro não requer apresentações, é um robusto clássico da literatura mundial.
Foi o primeiro livro de número avantajado de páginas que eu li. Minha primeira empreitada nesse tipo de leitura: 700 e poucas páginas. Li nuns dois meses e me encantei por completo!
Achei que Thomas Mann seria uma leitura difícil, mas não foi. Foi uma leitura completamente acessível para uma não-intelectual, mas medianamente voraz leitora como eu.
A história se passa em um sanatório para tuberculosos em Davos, na Suíça, antes da primeira guerra mundial.
Amei o personagem Hans Castorp! Acho meio brega dizer que nos identificamos com tal fulano-personagem, mas, realmente me identifiquei com ele.
Sua perfeita adaptação à vida do sanatório, relutando em deixá-la mesmo já estando curado, em detrimento da volta à sua vida de antes da doença foi totalmente compreensível por mim.
O sanatório se constituiu para ele num universo paralelo, aonde ele pôde amadurecer intelectualmente e aprofundar-se filosoficamente dentro de si mesmo. A sua estadia lá foi uma fantástica viagem emocional, intelectual, sensorial, filosófica, metafísica, e até mesmo amorosa.
Daí sua relutância em abandonar esse ambiente, ao qual ele se encaixou perfeitamente; aonde, além de pensar e sentir, ele só tinha que seguir as regras do sanatório, às quais ele estava inteiramente adaptado.
O sanatório tornou-se um mundo de sonhos, um refúgio do mundo real, pois se percebe no começo da obra que ele não possuía muitas aptidões para a vida prática e suas futilidades, sendo mais um contemplador-pensador do que um ator.
A ambigüidade sexual do personagem também é muito interessante. E é um aspecto que surge em outras obras do autor, como Morte em Veneza e Tonio Kroger.
Enfim, é um livro magnífico! Vale a pena lê-lo!

09 abril 2007

Livros

A LENDA DE MURASAKI


Estou lendo um livro chamado “ A Lenda de Murasaki”. É simplesmente viajante!
A história se passa no Japão medieval (séc. XI) e conta a vida de Murasaki Shikibu – a mulher que escreveu aquele que é considerado o primeiro romance da história da literatura mundial: “A Lenda de Genji” (Genji Monogatari), tornando-se um clássico da literatura japonesa.
A autora, Liza Dalby, estudiosa da cultura japonesa, a partir de fragmentos do diário de Murasaki recria a sua história.
Genji Monogatari conta a história do príncipe Genji, conhecido como o “Príncipe Brilhante”, cuja gentileza, romantismo e sensibilidade encantam quem a lê, e ao mesmo tempo recria o mundo aristocrático e social japonês da época.
As cópias manuscritas da história se espalham pela capital japonesa causando imenso sucesso; chegando à corte japonesa, cujo regente, também apreciando a obra, convida sua autora para ser dama de companhia da imperatriz – o que na época era a aspiração máxima das moças da classe alta japonesa.
A história é fantástica, pois nos mostra o modo de pensar do povo japonês, suas crenças, superstições (muitas!), tradições, costumes e sua sensibilidade poética!
Uma das coisas mais incríveis é que Genji tenha sido escrito por uma mulher numa época em que escrever era privilégio somente dos homens, sendo mal vistas as mulheres que se interessavam a aprender a ler e a adquirir cultura.

“Tanto por seu conteúdo como por sua extensão e qualidade literária, Genji Monogatari é considerada uma das obras mais influentes da literatura japonesa. Muitas pessoas a consideram o primeiro grande romance jamais escrito no mundo, isto no sentido moderno da palavra. Porém, vale notar que essa asserção é firmemente disputada, tanto por experts como por amadores.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Genji_Monogatari )

Naquela época era comum as pessoas de classe alta se comunicarem por meio de pequenas poesias chamadas waka!
Assim, o livro está repleto desses poemas, que Murasaki envia e recebe. São freqüentemente usadas metáforas com elementos do tempo (clima) e natureza para simbolizar seus estados de espírito. A poesia era utilizada também para celebrar alguma comemoração ou acontecimento importante na vida da corte.
A forma da poesia Waka consiste em 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º, 5 no 3º , 7 no 4º e 7 no 5°.
Os "waka", "poema" em japonês, foram desenvolvidos por aristocratas no século VI e consistem em estrofes de 37 sílabas, um pouco mais longos do que o tradicional "haiku" (conhecido como haicai fora do Japão), que é uma forma posterior. É, na realidade, uma waka truncada, de 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º e 5 no 3º.

Vamos à algumas Waka escritas por Murasaki:

“ Enquanto a vida flui, quem lerá – esse regalo para ela cuja lembrança nunca morrerá”

“ Tare ka yo ni nagarae te mimu kakitomeshi ato wa kie senu katami naredomo”



“Quando o som dos grilos esmorece na sebe, é impossível interromper o adeus do outono, como devem ficar triste...”

“ Nakiyowaru magaki no mushimo tomegataki akino wakare ya kanashikaru kana”



Waka que Murasaki enviou para sua prima Ruri:

“Enregelado pelo frio, meu pincel não consegue desenhar para você a imagem dos meus sentimentos”.


Waka enviado por Ruri como resposta:

“Embora não flua, continue a escrever; sua dor se afastará flutuando como o gelo na água”.



Uma waka sobre o ato de escrever waka, que ilustra bem o uso da waka na época e particularmente por Murasaki: (claro!)

“Toda ocasião, todo fenômeno natural, toda emoção, acendia uma waka em minha mente”



Agora, uma waka que achei particularmente muito bonito!
Ming-gwok, um chinês por quem Murasaki se apaixonou e com quem teve um caso, enviou para ela junto com um presente – uma caixa de pincéis chineses.
O barato é que ele já estava na China, muitos anos depois de eles terem se apaixonado e, devido à precariedade do envio de correspondências da época, ele imaginou que seu presente talvez nunca chegaria às mãos dela, daí esse poema:



Feiticeiro que cruza os imensos céus, procure aquela que não posso ver, nem em meus sonhos”
(lindo, lindo!)

19 março 2007

Sobre Nossas "Crias"

Comecei a pensar nos “filhos” gerados pelos “artistas” quando era adolescente e comecei a escrever pecinhas de teatro (não que eu me considerasse artista...mas me achava importante escrevendo...).
Bem, depois parei de pensar nisso e só fui voltar a esta idéia quando li uma frase genial de Pya Lima (as vezes Pêra, etc.....) no seu blog, sobre a concepção das proles.
No caso dela, fotografias, às quais pariu em clicks apaixonados e os libertou para o mundo a fim de cumprirem seu destino premeditado (segundo Pya).
A frase “Bendita é a Concepção das Proles” contida no texto não me saía da cabeça e, para exorcizar esse mantra perturbador que ressoava em minha mente, escrevi a poesia “Bela Prole” (que faz parte da minha Segunda Galáxia Poética).
A própria frase de Pya já é, em si, uma cria, que por sua vez, gerou indiretamente outra: esta minha poesia.
Assim, a própria cria poderá vir a dar “crias”, independente da vontade de sua mãe, ou de seu pai!
Ou seja, nossas crias podem não ter um destino tão premeditado assim...


A Concepção das Proles


Bela prole
concebida
Bela prole
bem nascida
Bela prole
bem criada.

Bela prole
vai crescendo,
apanhando e
aprendendo.
Desgarrando e
transformando,
libertando e
liberando.


Que tua mãe
que te gerou
Muitos frutos
ainda dê

Que teu pai
que não existe
Seja o mundo
que te pariste

De um insight
bela prole
nasceu!
Elaborando,
Bela prole cresceu!

Bela Prole
bem criada
Boa prole tb dará,
para este mundo
sem fim, concebendo,
um dia, também estará.
Inspirando e ensinando,
pela vida vai andando.
Cantando, sorrindo ou
chorando, bela prole
vai sonhando e encantando.


Do mundo
minha prole é,
para o mundo
foi parida,
e nele, bela prole morará!
Adormecida ou acordada,
na mente de alguém
fará sua morada.



Bendita é a concepção das proles!!! *

concebidas, paridas,
nascidas e criadas.

Acatadas, refutadas
ou destrinchadas,
Benditas proles,
belas ou não,
abrindo-se como
leques coloridos
pelo mundo se vão!




* frase de Pya Lima
http://pyalima.blog.uol.com.br/


Dez.2006

Segunda Galáxia Poética

EXPERIMENTAÇÃO


Experimento a poesia,
como quem experimenta uma receita culinária.
Experimento a poesia,
como uma forma de digerir emoções.
Experimento a poesia,
como uma fuga das emoções (como já disse um poeta)

Experimento o insight, a luz, a gênese, o parto,
a elaboração, a transmutação, a transcrição!
Experimento o mergulho no oceano profundo,
e a insana sanidade da exteriorização...

Excrescências de sentimentos marginais,
em puro estado bruto!
Requerente de elaboração, dilapidação e aprofundamento;
Para serem transcritos pelo centro nervoso da escrita!

Que exterioriza, expõe e mostra!
Analisa, persegue e gera,
vasculha indícios.
Percebe o que transborda
e o que se encolhe!
Explora, observa, descortina,

Vira pelo avesso
e sente,
como requerente,
a morte da matéria.


jul./e dez.06

Segunda Galáxia Poética

O QUE?




O que fazer
Quando o abraço não existe
O vácuo persiste
Os beijos se perdem
E a mente insiste?


O que fazer
Quando as mãos se esvaziam
Os olhares não existem
Os caminhos se desviam
E mente e coração insistem?


O que fazer
Quando os espaços se alargam
As intimidades inexistem
Os devaneios te abarcam
E mente, coração e corpo insistem?


O que fazer
Quando a ânsia persiste
As sensações insistem
O vazio não desiste
E a não-materialização resiste?




O que fazer?

O que comer
O que beber
O que deter
O que vencer
O que correr
O que mexer
O que escrever
O que viver?

O que?




12.10.06

16 março 2007

Segunda Galáxia Poética

AVES DA MANCHÚRIA


Da Manchúria à luxúria,
do zelo ao apelo,
somos aves sem dono.
No abandono de nosso vôo
sugamos o hálito de zéfiro
e nos alimentamos de nosso
próprio sangue.

Falta-nos o pecado e a fé,
a coragem e a sensatez,
a verdade e a paz.

Da Manchúria voamos até aqui
e aqui estamos,
aqui nos abandonamos,
aqui nos instalamos,
e aqui procuramos nossas vidas.

No bater de nossas asas,
o pó levantamos, e dele,
renascemos, crescemos,
e ao pó voltaremos.


Mas não agora!


Nós, Aves da Manchúria,
milagrosas criaturas,
nas alturas abandonadas,
às alturas condenadas!
Nosso destino aceitamos,
e nele, criaremos nosso vôo,
nossas vidas, idas,
e vindas...

No mais belo céu,
cujo encanto
em qualquer canto persiste
e existe...
Seja Ocidente ou Oriente,
Poente ou Ponente,
na História ou na Literatura.


Somos agora,
aves do céu,
e nele, nosso vôo se abrirá!




20.11.2006

Segunda Galáxia Poética

VIVA A RAZÃO


Acima de toda razão,
De todo contrato,
De todo substrato,
Eis-me aqui, intacto!
Pronto para amar-te.


Beijar-te querida, e amar-te suavemente...
Amar-te querida, e beijar-te longamente...


Além de todo extrato,
Exacto no acto,
No pulo e no gato,
Viva o substrato!


Viva a razão,
O almoço,
E a visão!


Viva o amor
Viva o beijo
Viva o abraço!
E viva o Substrato!



Viva a razão do amor que lhe tenho,
Viva a razão do amor que não podes me dar,
Viva a nossa razão,
O nosso substrato,
O nosso contato,
O nosso tato!


Viva o tudo e o nada!
Viva eu e você!
E o nosso amoroso substrato,
não-exato e sem acto!



2006 (ago. e out.)

Segunda Galáxia Poética

AMOR OPONENTE


Inspirou-me certamente, mas não inteiramente,
o seu olhar,
a sua tez,
o seu portar-se.

Os seus modos para comigo
foram o fio condutor
do meu desassossego
e do meu ardor.

Em mim ficou o seu cheiro,
e do sentir diário desse perfume,
nasceu inodora flor.
A marca do cego vagar,
da muda fala verborrágica,
cujas palavras escorrem vãs
e desprovidas de sentido,
perante o infinito que se agiganta.

A marca da surdez eloqüente,
que assim chega aos ouvidos do amor oponente.

Inspirou-me certamente, mas não inteiramente,
a sua vida,
as suas mãos,
e a sua companhia.


Inspirou-me para amar-te e para odiar-te.
Inspirou-me para desiludir-me de ti e de mim,
do discernimento e da razão,
da vazão,
do sim,
e do não!




26.10.2006 e
12.12.2006

15 março 2007

Segunda Galáxia Poética

DIA SECO

Dia seco.
Manhã seca.
Sol queimando.
Pelas ruas ardentes os carros passam,
correndo, desviando,
xingando, atropelando,
Querendo!

Manhã ensolarada,
cansada, suada,
encarquilhada, iluminada!
Seca.

Dia seco.
Manhã tórrida.
Sol ardendo.
Pelos paralelepípedos escaldantes as pessoas passam,
andando, correndo,
Suando, ardendo,
Querendo!

Manhã clara do brilho do sol,
dos reflexos nos vidros dos carros e
nas pedras velhas do calçamento.
Pedras quentes de outra época,
De outras manhãs...
Também secas?

Dia seco.
Manhã ressecada pelo sol de muitos anos,
anos de luta e glória,
fortunas e fracassos,
experiência e cansaço,
descanso e esperança...

Dia seco.
Manhã de fogo-fátuo bruxuleante
pelas casas antigas que ainda mantém-se,
pelos resquícios dos velhos tijolos nas novas construções,
pelos velhos cimentos, que, unindo tijolos, abrigaram
vidas que já se foram.
Pedra e massa que agora presenciam dias secos, manhãs ardentes,
dias ressequidos, manhãs carentes.

Dia úmido
Manhã fresca,
um dia....


Out.2006

14 março 2007

Segunda Galáxia Poética

INDÍCIOS


Quero descobrir
os segredos
que teus olhos
indiciam

Revolver sua placidez
e fomentar
tua rebeldia

Latente.
que se sente
transbordante
dos teus
olhos.


14.12.2006

13 março 2007

Segunda Galáxia Poética

EM SUSPENSO


Suspensa está
a respiração
a vida
o tesão.


Suspensos estão
o amor
a cor
a dor
o valor.


Nessa meia-vida
refrescante é a brisa
doce é o pêssego fresco
suave é o perfume da maçã


Nessa suspensão
nada de novo se planta
mas o que se colhe
se não assusta, perturba.
Não se esconde, se mostra,
e aí, assusta!



26.10.2006

Poetrix

Há pouco tempo, visitando sites de poesias, descobri a existência de um movimento poético chamado Poetrix.
Esse tipo de poema lembra, pelo seu formato, o haicai em sua versão ocidental, conforme explicação de Ana Maria de Souza Mello (1):


“ O haicai é um poema japonês composto de 17 sílabas que nas traduções e nos originais ocidentais, vem distribuído em três versos de 5, 7 e 5 sílabas formando um terceto. O terceto é uma característica ocidental pois em japonês estes versos vêm escritos em uma única linha vertical ou horizontal. Originalmente sem rima, que é muitas vezes acrescentada na tradução.”

Já o Poetrix é um poema composto de título e uma estrofe de três versos, um terceto, com um máximo de trinta sílabas métricas.Surgiu em 1999, com a publicação do livro TRIX – Poemetos Tropi-kais, de Goulart Gomes, premiado com Menção Especial pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores – RJ, em 2000.

Segundo palavras do próprio criador: “O POETRIX tem sido chamado de "anti-haicai" ou "filho rebelde do haicai". Eu diria que ele é um 'herdeiro" do haicai, pela sua forma e um "herdeiro" dos micropoemas e poemas-minuto, pelo seu conteúdo. Mas, não esqueçamos que o terceto também tem uma tradição ocidental, oriunda dos terzettos italianos, praticados por Dante Alighieri. “ (2)




Escrevi esses dois micro-poemas, serão eles POETRIX??




Poesia

Poesia é sangue e suor
É o momento maior
Mesmo que em dor menor
O Que é O Amor

Nada é o amor
Sem o grande temor
Das lágrimas





07 março 2007

Poesias Selecionadas

Há muito tempo atrás eu li o poema ANNABEL LEE de Edgar Allan Poe e o achei muito bonito e triste. Realmente me impressionou.

Lembrei-me dele esses dias e resolvi colocar aqui essa poesia.
Colocarei duas traduções para o português, uma de Fernando Pessoa e outra do brasileiro Oscar Mendes.
Gostei mais da tradução do Oscar Mendes, por causa, principalmente, da repetição da palavra ANNABEL LEE , semelhante ao original em inglês.
Essa repetição torna mais trágico e triste o poema, e lindo, muito lindo!


ANNABEL LEE

trad. de Oscar Mendes

Há muitos, muitos anos, existia
num reino à beira-mar, em que vivi,
uma donzela, de alta fidalguia,
chamada ANNABEL LEE.
Amava-me, e o seu sonho consistia
em ter-me sempre para si.


Eu era criança, ela era uma criança
no reino à beira-mar, em que vivi.
Mas tanto o nosso amor ultrapassava
o próprio amor, que até senti
os serafins celestes invejarem
a mim e a ANNABEL LEE.


Por isso mesmo, há muitos, muitos anos,
no reino à beira-mar, em que vivi,
gélido, de uma nuvem, veio um vento
matar ANNABEL LEE.
E seus nobres parentes se apressaram
em tirá-la de mim: encerrarem-na vi
num sepulcro bem junto ao mar,
que chora eternamente ali.


Foi inveja dos anjos: mais felizes
éramos nós aqui.
Sim, foi por isso (como todos sabem
no reino à beira-mar, em que a perdi)
que veio um vento, à noite, de uma nuvem
matar ANNABEL LEE.


Mas nosso amor, imenso, era mais forte
do que o tempo e que a morte,
do que a própria esperança em que o envolvi.
E nem anjos celestes nas alturas,nem demónios dos mares abissais
jamais minha alma afastarão, jamais,
da bela ANNABEL LEE.


Pois, quando surge a lua, em meus sonhos flutua,
no luar, ANNABEL LEE.
E, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
o olhar de ANNABEL LEE.
E junto a ela eu passo, assim, a noite inteira,
junto àquela que adoro, a esposa, a companheira,
na tumba, à beira-mar, no reino em que vivi,
junto ao mar que por ti
soluça eternamente, ANNABEL LEE.

http://umamericanoemlisboa.blogspot.com/2005/12/beira-marbeira-mal.html


ANNABEL LEE

trad. de Fernando Pessoa

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.


Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.


E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.


E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.


Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.


Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.



ANNABEL LEE

Edgar Allan Poe

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.


I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.


And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.


The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know, In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.


But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.


For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so,all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling, my darling, my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.


http://www.culturabrasil.org/pessoaepoe.htm

27 fevereiro 2007

Primeira Galáxia Poética

Não sou de escrever sobre minhas poesias, mas, sobre esta em particular, gostaria de escrever algo.
Ela foi escrita no calor do rompimento de um relacionamento (no qual eu levei o fora...)
Inicialmente ela estava projetada para ser uma poesia de amor para a pessoa com quem eu estava, mas, sentindo que a relação não ia bem, minha inspiração arrefeceu.
Então, deixei a poesia começada para ver o que aconteceria com ela mais para frente...
Assim, quando do rompimento, retomei a mesma e resolvei fazer por meio dela, um exercício de amor romântico.
Pode parecer pieguice extrema da minha parte, mas acho fascinante a poesia que idealiza o ser amado!
Dessa forma, escrevi a tristeza do rompimento a partir da idealização romântica.
No meio da poesia cheguei a tentar recuar, achando que estava exagerando, pois o relacionamento não havia me deixado perdidamente apaixonada; mas, esforcei-me para concentrar-me no exercício poético do amor romântico, independente da minha relação e do fora que levei.
E saiu essa poesia.
Escrevo poesia intuitivamente, sem me apegar a regras ou às escolas literárias, assim, qualifico essa poesia como amor romântico, mas não sei exatamente se ela se encaixa nesse rótulo de acordo com a literatura poética.
Entretanto, como poesia para mim é vida, intuição e inspiração, isso é o que menos importa!




VISLUMBRES (lírica de amor romântico)

Num vislumbre vi você.
Sua visão inundou meus olhos....
Mais tarde, meus sentidos todos.
Sua presença perturbou o meu estar, o meu dizer e o meu olhar,
e a sua emanante suavidade invadiu minha vida.

A cada estar seu ao meu lado, e a cada vislumbre da sua presença,
Enlevava-se e aguçava-se a minha mente...
Num desnorteio bom, feliz, preenchido de vida, e de diárias elucidações...
Meu corpo renascia todos os dias em que nos tocávamos,
no entrelaçamento premente de nossas vidas.

E agora eu sigo o seu perfume, que me persegue junto com o gosto de mel
imanente aos seus lábios e a doçura dos seus olhos...
Pequena bússola que norteia meus sentimentos, fonte de risos e sonhos bons.
Sonhos esses, desejosamente infindáveis, como o são os sonhos dos verdadeiros
poetas!

Sonhos de amar-te, sonhos de viver-te, sonhos sonhados com você, sonhos de
poeta que quer amar a amada desejada, sonhada, idealizada!
Sonhos de poesias repletas de amor sonhado,
Poesias sonhadas repletas de sonhos de amor...

Sonhos no entanto, são sonhos....
Amores sonhados, são sonhos...
Poesias são sonhos de poetas....
... e poetas são talvez, apenas sonhadores?
Cujos sonhos a realidade dura, crua e nua suplanta...
desconstrói, derrota, abalroa, desmantela!

Então, então, então...........................................
Olhando agora, apoiado em patamares outros...
Os seus doces olhos úmidos, perdidos e carregadores de noticiosas novidades do
porvir do amor, do porvir do depois, do porvir do que vêm....
Em seus olhos cintilantes, brilhantes e grandes, vislumbro os deflagradores do
acordar do poeta!

Do despertar dos sonhos sonhados vãos, que finalmente vão-se em sonhos
perdidos e despedaçados, ribombando ao vento em busca do nada.


Abril/Maio.2006

30 janeiro 2007

Filmes

O NOVO MUNDO


Recentemente assisti O Novo Mundo de Terrence Mallick em dvd.
É uma versão de Pocahontas, aonde um marinheiro inglês chega nos EUA, mais especificamente no estado da Virgínia, para colonizar as terras, e se apaixona pela filha do rei de uma tribo de nativos; e a princesa também se apaixona por ele.
Seria mais uma adaptação dessa história de amor e colonização da América, não fosse o modo como esse filme foi feito.
São mais de duas horas de pura poesia! O ritmo é lento, com pouquíssimos diálogos. Mas não cansa! É uma grande poesia visual, com imagens belíssimas e possuidor de um lirismo fascinante!
Li críticas em sites de cinema de pessoas que o odiaram....essa reação é esperada por parte dos espectadores comuns, acostumados à mediocridade da televisão e dos filmes comerciais.
Como li num outro lugar e concordo plenamente, apreciar esse filme exige maturidade e sensibilidade do espectador, o que inexiste na grande massa homogeneamente insensível e sem cultura que assola nosso planeta!
Mas para aqueles cuja alma anseia pela elevação estética (no sentido espiritual), poesia, lirismo e até mesmo a metafísica, eis aí um belo filme!
Filmado com luz natural, proporciona um visão realística, causando mais fascínio ainda.
A atuação da atriz que interpreta a princesa nativa é uma atração à parte, doce, pura, cristalina!
É uma linda viagem de pureza e utopia!


Site Oficial: www.thenewworldmovie.com