01 outubro 2008

Alguém conhece a Marisinha?

Marisinha, ex-cantora do teatro de revista nos anos 20 (do séc. XX), tornou-se mecenas de artistas e artesãos no interior paulista, após casar-se com um médico–cirurgião e rico fazendeiro de Ribeirão Preto.


Não se sabe como se conheceram, só é sabido que o médico, por volta de seus cinquenta anos, casara-se com a cantora Marisinha, quando esta encontrava-se no início do seu breve apogeu como artista.
Elegante mulata, de cujo nascimento, também pouco se sabe, aos 22 anos começou a ficar famosa no Rio de Janeiro devido à sua bela e sensual performance como cantora e atriz.

Com o casamento, largou a carreira artística e instalou-se numa ampla e confortável casa na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo; ainda nos anos 20, com o marido.
Lá, passou a incomodar a sociedade tradicional local, pois muitos se escandalizaram com tal união – jovem artista e mulata, casando-se com o cobiçado médico e fazendeiro (apesar de já cinquentão, havia permanecido solteiro até então), de tradicional família do interior cafeeiro.

Os saraus realizados na casa do casal tornaram-se conhecidos em todo o Estado. Sob o manto da pura boêmia, Marisinha era na verdade, uma inusitada patrona tropical das artes, adorada por uns, e odiada por outros.
Dela, diz-se, vários nomes da música popular brasileira de diferentes vertentes receberam o primeiro apoio e incentivo, bem como artistas plásticos com renomadas carreiras no Brasil e no exterior. Sem contar os inúmeros artesãos da região, que, com o seu mecenato, organizaram diversas feiras de artesanato itinerantes por todo o país.

Muitos a descrevem como puramente bondosa e caridosa, amante incondicional das artes, e desprovida de segundas intenções; outros, como uma grande boêmia viciada em ópio e colecionadora de amantes-artistas, os quais patrocinava com a fortuna do marido e nas barbas deste.

O que se pode afirmar com certeza, é que Marisinha tornou-se uma lenda e, como tal, possui diferentes versões.

Há os que afirmam que na realidade, ela viveu no início dos anos 70, sendo uma referência no incentivo à contracultura; abrigando em sua fazenda, hippies e artistas visionários da era de aquário, do Brasil e do exterior.

Marisinha foi tão marcante na cidade que há quem diga que, ainda hoje, no caminho da sua casa, no centro da cidade, até a fazenda, nas efervescentes noites do verão ribeirão-pretano, todas às primeiras quintas-feiras de cada mês, por volta das 20 horas, é possível ouvir a vibrante folia do “corso” que antecedia os seus famosos saraus, quando estes eram realizados na fazenda (os da cidade não possuíam datas definidas).



Apreciados leitores, depois de ler esta história, que até mim veio por meio de um sonho - a qual adornada foi, obviamente, com pitadas de imaginação; digam-me, por favor, alguém conhece a Marisinha?



set./2008

22 julho 2008

Sem Rótulos

Em alguns momentos, adormecer é como entrar numa espiral de palavras, num redemoinho de idéias, aonde muitas vozes falam ao mesmo tempo, ditando o que escrever.
Será isso a autopsicografia?




Jun/2008

20 julho 2008

A Grande Ternura

Ele lia.
E ela dormia.
Bela e diáfana,
sua amada se encontrava.
E ele então pensava,
no amor que os unia,
e acreditava que ele nunca terminaria...

Seu corpo, uma ternura invadiu,
Seus olhos, lentamente se abriram,
E de um sonho, ele todo emergiu.

Seu amor, em seus sonhos,
adormecida permanecia.
E ele, com a ternura a invadir-lhe o peito,
e as lágrimas a lhe encherem os olhos,
adormeceu...
E, mais uma vez, sonhou...

De sonho em sonho,
Pé ante pé,
De livro em livro,
E de vez em quando,
Ele espiava, discretamente,
Seu amor, ali, adormecida...
Talvez entorpecida,
avizinhada e avisada,
da sua imensa ternura.
Ternura que em seus sonhos
a colocava,
Que de seus sonhos,
a retirava.

Ternura que lhe percorria o corpo,
desejando que o amor não acabasse,
que o amor começasse,
que o amor re-começasse.

Mas ali, adormecida,
lentamente esmaecida,
seu amor se mostrava,
e se prostrava...
a despeito de toda a sua ternura.
A despeito de todo seu desejo,
e de todo o seu grande amor...

De pé em pé,
Sono ante sono,
Quase até o sonho,
À cama, ele chegou, de pijama,
Com um livro na mão...

E a ternura, agora adormecida em seu peito,
Acalmava-lhe a dor...
De olhar para o lado, enquanto lia,
E ver que ali, nem acordada,
Nem adormecida,
Sua amada permanecia...


05.05.2007

05 julho 2008

Metavida

Vá meu amor,
Vá viver nesta vida.
Eu aqui continuarei...
Nesta construção descabida
Neste sonho de sonhos
Nesta casinha escondida
Onde nascemos, e eu viverei

Escolha, meu amor
Caminhos estreitos,
E em cada um, plante uma flor
Guarde as sementes dentro do peito
E plante novamente, quando chegar o momento

Vá meu amor,
E não olhe pra trás...
Mesmo sob dor,
Deite fora a nostalgia,
Mas mantenha na mente, a poesia
E no coração, a paz

Deixe-me a cá, meu amor
Colhendo dados e idéias
Mesmo nas noites, de estrelas, vazias
E nos dias também, de intensa ventania

Deixe-me a cá, meu amor
Formulando teorias, desconstruindo padrões,
alimentando ilusões, sonhando e experimentando,
Esta metavida, esta ida,
Sem volta talvez...

Mas, meu amor,
Não se preocupe, não se culpe
e nem se desculpe...
Apenas se cumprem, nossos desejos...
Apenas estamos, vivendo...


22.12.2007

27 junho 2008

Caliandra


Vem Caliandra,
Vem encontrar-me pela manhã,
Vem dar-me bom dia!
Vem oferecer-me tua mão,
Para que eu possa segurá-la,
e tua face, para que eu possa
Beijá-la.

Vem Caliandra
Vem comigo repartir
Tuas alegrias,
Vem a mim contar
Teus dissabores e
Mal-humores.

Bela Caliandra,
Vem florir minha sina,
Que minha vida
Já se esvazia...
Vem rápido, vem ligeira,
Que minha vida já não agüenta
Assoprar as cinzas frias da lareira.

Preciso Caliandra,
dos teus encantos,
E que em todo canto,
Deixes teu beijo doce e aveludado
Teu carinho e teu retrato
Enfeitando a lareira aquecida,
Renascida e adornada
De flores e de amores.

Vem Caliandra,
Vem sem medo, sem temor,
Vem tirar meu amargor
Vem em mim deixar a tua cor

Vem Caliandra,
Vem beijar-me com ardor
Vem sem máscaras e sem pudor,
Vem anoitecer no meu amor...

Ressonar no meu peito,
Abandonar-se em mim,
e eu em ti.
Misturando-nos ambas,
Em meio às flores do jardim...


Maio/jun.2007

“CORAÇÃO-NAVIO” *

De além-mar, sob o vôo das gaivotas, vêm o meu amor...
Na linha do horizonte, bem ao longe, avisto seu navio,
cujas brancas velas contrastam com o azul do céu...
Vem chegando lentamente, tal qual o hesitante, de descerrar um véu.


De além-mar, trazido pelos bons ventos, vêm o meu amor..
Traz nas mãos, a força da luta, e no corpo, cicatrizes de dor
Na mente, a decisão do seu destino,
e no coração... quem saberá, o que se passa em seu coração?


Sei apenas e tão somente, o que se passa aqui,
no meu peito ardente, que transborda de amor,
ao avistar, na tênue linha entre céu e mar,
a chegada do meu porto navegante...
em seu magistral “coração-navio”, célere e ofegante!


De além-mar, sob os auspícios benevolentes de Netuno, vêm o meu amor...
Além do mar, vêm aquele que tanto esperei, que em sonhos busquei
Muito além da lei do mar, em metapoético navio, vêm o meu amor,
aportando nestas terras prolíficas, abundantes de história e poesia...


Na torre de vigia, sua chegada já se anuncia,
entre trombetas e discursos, o seu nome me guia
Seus passos, de proa à popa, observo; seu olhar, tento decifrar.
Pela prancha adornada, descerá ele do seu “coração”...
ou terei eu, que escalar suas ameias?




* expressão usada por Nicolas Guto no poema “Ulisses”


Dez/2007-Jan/2008

31 maio 2008

O perfume no elevador

Entrei sozinho no elevador. A porta se fechou e imediatamente senti aquele perfume. Um delicioso e adocicado perfume. Tinha um final levemente cítrico, mas era indiscutivelmente doce. Adocicado sem exagero, na medida exata da doçura. Da doçura de uma mulher. Era um perfume feminino.

Lamentei chegar tão rápido ao meu andar. Queria mais tempo junto ao perfume.
Apesar de detestar elevadores – esses quartinhos fechados e claustrofóbicos que nos carregam pelas entranhas dos edifícios...mas que, em contrapartida, podem nos embriagar docemente com perfumes femininos – concentrando-os em seu espaço exíguo – eu queria permanecer dentro dele.
Dentro desses espaços que abrigam temporária, mas marcantes presenças de fêmeas, que nos atiram da realidade para um cálido e suave mundo de sonhos...

Lamentei terrivelmente não habitar o vigésimo sexto andar, e chegar tão rápido como cheguei, ao décimo terceiro. Meu andar. Décimo terceiro, número treze. Meu número da sorte.
Decidi ao dez anos de idade que este seria meu número da sorte. Somente mais tarde fui descobrir que ele era considerado um número de azar. Não me abalei. O número treze era o meu número da sorte. E ponto final.

No dia seguinte, o perfume no elevador lá se fazia sentir outra vez. No mesmo horário do dia anterior. Exatamente quando voltei do trabalho, direto para o décimo terceiro.

No primeiro dia do perfume, eu faltara na academia porque havia esquecido o par de tênis no apartamento. No segundo dia, faltei novamente porque esqueci não somente os tênis, mas a mochila toda!

Durante toda a semana, deparei-me, senti e aspirei o perfume no elevador. Deixei que ele me envolvesse, e passei a adormecer pensando na mulher que o exalava.
Faltei a semana toda na academia. Faltei também no curso de alemão e no bar com os caras do trabalho.

Na terceira semana, sentindo-o no elevador todos os dias ao voltar do trabalho, me dei conta da insanidade em que eu havia me colocado. Nem ao menos tentei descobrir a qual mulher aquele perfume pertencia!
Senti-me um tolo sem precedentes. Mas como libertar-me? Daquele perfume embriagante, que envolvia minha vida e a transportava para os braços de um amor grandioso?

Loucura! O que deveria eu fazer? Relacionar-me apaixonadamente com uma mulher e pedir-lhe que usasse o perfume? Se ela negasse, deveria eu implorar-lhe, ou, numa hipótese mais extrema, exigir-lhe o uso do perfume? E se ela o negasse veementemente?

Deveria então, eu mesmo usá-lo? E dormir envolto a ele; que assim, seria, meu perfume?




Maio/2008

14 abril 2008

Poema inspirado por...(alguém de olhos verdes?)

O verde nos teus olhos



O verde das matas nos teus olhos
É como o vento que faz curvar as árvores,
e que semeia as flores nos campos.
Cor das águas profundas,
que espelham a lua
nas noites serenas de amor


Cítrico olhar, que lentamente se adocica
Na agridoce e suave fragrância,
da lima e da rosa pimenta


O verde aquamarine dos teus olhos
esculpe na tua face, a beleza...
Por vezes, de singela pedra de jade,
por outras, de imperiosa tigresa...



09.04.2008

18 março 2008

Filme e Livro

Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....





Neste fim de semana assisti A Hora da Estrela, filme de Suzana Amaral sobre o livro da Clarice Lispector. Eu já havia lido o mesmo há muito tempo, mas o filme, vi pela primeira vez.
É impressionante e desconfortável a incômoda e despropositada vida de Macabéa, sem lugar neste mundo. Sua simplicidade extremada e seus questionamentos infantis e ao mesmo tempo, quase filosóficos, são estarrecedoramente apaixonantes e apavorantes. (“ Você é feliz?” pergunta sua colega de trabalho; ela responde: “Feliz serve pra que?”)
Um desconforto só!
No dia seguinte, continuei minha leitura de Matadouro 5, de Kurt Vonnegut. Uma incrível, satírica e sã loucura.
Resultado: adormeci pensando que Billy Pilgrim e Macabéa eram muito parecidos (não sei se minha embriaguez onírica contribuiu para isso, sendo esta idéia um delírio, ou se realmente eles têm alguma coisa em comum...); assim, os dois atormentaram meu sono e meus sonhos. Senti que precisava escrever sobre isso, senão, eles me atormentariam por mais tempo!


Talvez o que enxerguei em comum nos dois tenha sido o seu deslocamento em relação a um lugar na vida - ambos, cada um ao seu modo, são deslocados no mundo...e tem uma ingenuidade infantil - Mas isso ocorre de modos diferentes para os dois:

Macabéa vive a vida inconscientemente, quase como um animal irracional – ela é um ninguém que nem sabe que é um ninguém...
Sua existência, quase metafísica, se concretiza na sua morte prematura.

A vida de Billy Pilgrim também não o deixa confortável, e, de certa forma, ele sabe disso, pois passa a odiar a vida (mas infantilmente); principalmente após sua experiência na segunda guerra (é internado num hospital de veteranos com colapso nervoso, e cobre a cabeça nas visitas da mãe, pois tem vergonha de odiar a vida, uma vez que sua mãe a deu a ele...).
Antes da guerra, sua vida já não tinha muito sentido, depois, parece que o sentido vêm sem querer, com seu casamento com a moça rica, filha do proprietário da escola de Optometria aonde ele estudava antes da guerra. Casamento esse, decidido num momento de delírio do personagem, que nem sabia ao certo o que estava fazendo...(a moça era muito feia...e ninguém a queria).
Durante a guerra, sua apatia perante tudo - praticamente empurrando-o para a morte, só é barrada pelos colegas soldados, que o vão levando pra cá e pra lá guerra afora, salvando-o da morte.
Ainda não acabei de ler Matadouro 5, mas parece que a salvação principal de Billy (em relação a sua vida ter um sentido) vêm de sua relação com o planeta Tralfamador, cujos alienígenas o abduzem...(não se assustem....o livro é uma mistura de drama satírico sobre a segunda guerra – com ênfase ao massacre de Dresden, na Alemanha, e ficção científica...).

Bom, é isso, embora as duas histórias sejam loucamente diferentes e achar um ponto em comum entre seus personagens pareça um desvario sem precedentes, foi isso mesmo que enxerguei, Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....

03 março 2008

Trilogia

TRILOGIA



Sol morno, brisa fresca, lembranças e caminhos
Ruas largas, sensações de outros tempos
Avenidas que conspiram com poetas andantes...
INSPIRAÇÃO



Papéis espalhados, computador ligado, programas abertos
Caneta a postos, sinalizando planilhas, dançando nos dedos
Uma pausa, um pensamento, um olhar, uma idéia...
CRIAÇÃO



Em meio às flores perfumadas, coloridos insetos passeiam
Poemas brotam, que surpresa, nos jardins da cidade
E os poetas acompanham, curiosos, o andar das joaninhas...
POETIZAÇÃO



27 e 28/02/2008

14 janeiro 2008

Livros Viajantes

O Fim da Infãncia, de Arthur Clarke


Descobri a existência do livro O Fim da Infância de Arthur Clarke numa lista de discussão de Gestão do Conhecimento, e minha curiosidade foi aguçada na hora!
Li e não me arrependi! É fantástico!
Nunca tinha ouvido falar no autor, mas descobri que ele é um autor de ficção científica famoso, tendo escrito 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Bom, por ai podemos ver que ele é da leva da boa Sci-Fi (não que eu entenda disso, mas pelo pouco que li sobre, fica-se sabendo...)
Bem, mas vamos lá. Não quero estragar a surpresa de ninguém, mas....rs.....lá vai a história:
O livro foi escrito em 1953 e a história inicialmente se passa nessa época também.
Nos anos 50 os Ets finalmente invadem a Terra e domesticam a humanidade!
É maravilhoso ler tudo de bom que eles aprontam por aqui. E tudo pacificamente, sem guerras! Um exemplo do que acontece é durante as touradas na Espanha. Todos que assistem ao touro ser martirizado também sentem a dor que o animal está sentindo!
É de arrepiar! Resultado: acabam-se as touradas!
O mundo todo se transforma numa grande e única nação. O preconceito racial e religioso é extinto; porém, sobre o sexual nada se diz...mas, vale lembrar no entanto, que o livro foi escrito em 1953!
O planeta então, vai caminhando prosperamente, sem fome, sem miséria, sem criminalidade, sem doenças, tecnologia de ponta a serviço de todos – o verdadeiro paraíso na Terra.
Porém, após 100 anos de boa dominação, descobre-se o verdadeiro propósito dos Ets, chamados de Senhores Supremos – levar embora do planeta todas as crianças.
No entanto, os próprios Ets cumprem ordens para a Mente Suprema (seria Deus?), desconhecendo os propósitos deste último.
Assim, com o fim da infância, têm-se simplesmente, o fim da humanidade e o fim do planeta!
Todas as crianças com idade abaixo de 10 anos começam a desenvolver estranhos poderes e aos poucos vão perdendo suas personalidades e vão se fundindo todas numa única mente que vai sendo alimentada com conhecimentos pela mente suprema (terá sido por isso a menção ao mesmo numa lista de GC?), e vão sendo levadas pelos senhores supremos para a tal mente suprema.
A todas que vão nascendo, acontece a mesma coisa, então, todos param de ter filhos e assim se acaba a humanidade!
Aterrador, fantástico e viajante!