18 março 2008

Filme e Livro

Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....





Neste fim de semana assisti A Hora da Estrela, filme de Suzana Amaral sobre o livro da Clarice Lispector. Eu já havia lido o mesmo há muito tempo, mas o filme, vi pela primeira vez.
É impressionante e desconfortável a incômoda e despropositada vida de Macabéa, sem lugar neste mundo. Sua simplicidade extremada e seus questionamentos infantis e ao mesmo tempo, quase filosóficos, são estarrecedoramente apaixonantes e apavorantes. (“ Você é feliz?” pergunta sua colega de trabalho; ela responde: “Feliz serve pra que?”)
Um desconforto só!
No dia seguinte, continuei minha leitura de Matadouro 5, de Kurt Vonnegut. Uma incrível, satírica e sã loucura.
Resultado: adormeci pensando que Billy Pilgrim e Macabéa eram muito parecidos (não sei se minha embriaguez onírica contribuiu para isso, sendo esta idéia um delírio, ou se realmente eles têm alguma coisa em comum...); assim, os dois atormentaram meu sono e meus sonhos. Senti que precisava escrever sobre isso, senão, eles me atormentariam por mais tempo!


Talvez o que enxerguei em comum nos dois tenha sido o seu deslocamento em relação a um lugar na vida - ambos, cada um ao seu modo, são deslocados no mundo...e tem uma ingenuidade infantil - Mas isso ocorre de modos diferentes para os dois:

Macabéa vive a vida inconscientemente, quase como um animal irracional – ela é um ninguém que nem sabe que é um ninguém...
Sua existência, quase metafísica, se concretiza na sua morte prematura.

A vida de Billy Pilgrim também não o deixa confortável, e, de certa forma, ele sabe disso, pois passa a odiar a vida (mas infantilmente); principalmente após sua experiência na segunda guerra (é internado num hospital de veteranos com colapso nervoso, e cobre a cabeça nas visitas da mãe, pois tem vergonha de odiar a vida, uma vez que sua mãe a deu a ele...).
Antes da guerra, sua vida já não tinha muito sentido, depois, parece que o sentido vêm sem querer, com seu casamento com a moça rica, filha do proprietário da escola de Optometria aonde ele estudava antes da guerra. Casamento esse, decidido num momento de delírio do personagem, que nem sabia ao certo o que estava fazendo...(a moça era muito feia...e ninguém a queria).
Durante a guerra, sua apatia perante tudo - praticamente empurrando-o para a morte, só é barrada pelos colegas soldados, que o vão levando pra cá e pra lá guerra afora, salvando-o da morte.
Ainda não acabei de ler Matadouro 5, mas parece que a salvação principal de Billy (em relação a sua vida ter um sentido) vêm de sua relação com o planeta Tralfamador, cujos alienígenas o abduzem...(não se assustem....o livro é uma mistura de drama satírico sobre a segunda guerra – com ênfase ao massacre de Dresden, na Alemanha, e ficção científica...).

Bom, é isso, embora as duas histórias sejam loucamente diferentes e achar um ponto em comum entre seus personagens pareça um desvario sem precedentes, foi isso mesmo que enxerguei, Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....

Um comentário:

Camila disse...

Olá! Obrigada pela visita! Que bom que você gostou do poema, parece que mais uma vez tivemos idéias parecidas, essa coisa de guardar imagens é mesmo fascinante, acho que é esse sentimento que motiva os pintores, deve ser um pouco angustiante porque não se pode paralisar um instante exato para a pintura, como faz a fotografia, mas talvez seja essa subjetividade o fascínio da arte, o encontro da beleza com as ânsias e os limites do ser humano! Gostei do seu texto e da relação que vc percebeu, embora não possa opinar muito, pois não conheço os personagens. Achei engraçado você dizer que esse pensamento estava atormentavando seu sono e seus sonhos! Isso acontece comigo, e pior, geralmente antes de dormir, parece que as idéias vem do nada e só param de perturbar quando vão para o papel(word não é poético!hehehe). Enfim, a filosofia é: escrever para evitar olheiras no dia seguinte!
Boa Páscoa para você!:)