06 dezembro 2012

Para Gonçalves Dias

Esta semana recebi um e-mail sobre um projeto que pretende reunir mil poemas para Gonçalves Dias. Assim, li alguma coisa sobre ele e escrevi o poema abaixo. Como só estou conseguindo escrever sobre amor (principalmente frustrado), um episódio da vida do poeta, em que ele perde seu grande amor,  me inspirou. Escrevi ontem, correndo:



Não lamentes amigo


Caro amigo, não lamentes o amor perdido.
Perdeste-o sim, porém não por desleixo teu,
Perdeste-o pelo preconceito desmedido,
Perdeste-o pelo respeito que era só teu.

Caro amigo, não lamentes o amor perdido.
Fizestes aquilo que o momento pediu,
Respeitastes o apreço àqueles por ti escolhidos,
Mostrastes mais força que o desejo varonil.

Caro amigo, não lamentes o amor perdido.
Decidistes o que na época era o melhor a fazer,
Apesar de o homem em ti, tornar o poeta comedido,
Apesar de a razão em ti, impedir o amor de colher.

Caro amigo, não lamentes o amor perdido.
O que fizestes está feito, mesmo que  incompreendido.
Escolhestes por teu senso de homem, não de poeta,
Agora arcarás por tua escolha, vivendo um amor asceta.



05/12/12

02 outubro 2012

Sobre cartas e poemas de amor



Como já disse Álvaro de Campos em 1935 (heterônimo que mais gosto do Pessoa):

       Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
       Ridículas.


       Não só as cartas Álvaro, os poemas de amor também o são. 

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.


    Concordo, pois o amor é ridículo! Ridículo e delicioso! Ah, e brega também!

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.


    Com certeza, quem mais poderia ser ridículo do que alguém que nunca amou? E consequentemente nunca escreveu uma ridícula carta de amor? Ou um ridículo poema de amor? Ou ainda, um breguíssimo poema de amor?

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.


    Ainda estou nesse tempo Álvaro! Mas não escrevo cartas, escrevo poemas, breguíssimos!

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.


    Não são, ou melhor, são, mas é melhor ter memórias ridículas sobre  de cartas de amor ridículas do que não ter do que se  lembrar sobre o amor....não?!

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)



    Todos os sentimentos esdrúxulos são ridículos
    Todas as palavras esdrúxulas tem adjetivos semelhantes aos sentimentos esdrúxulos
    O amor é um sentimento....
    O amor pode ser uma palavra...
    Logo...o amor é esdrúxulo?


    Ridículo, esdrúxulo, brega ou sabe-se lá quais outros adjetivos o amor venha a ter, os poetas continuam a escrever cartas de amor, poemas de amor, ou sobre o amor. Não fugi à sina. Escrevi mais um poema...breguíssimo, de amor:



    Reminiscências

    Como esquecer teu sorriso, tua voz, teu perfume
    tua pele e teus cabelos?
    Como superar esse amor que não se vai, e que sim,
    resiste aos meus apelos?

    Por onde ando procuro você,
    e sem perceber, ando em círculos sem fim
    Revejo fotos e vídeos, idéias e lembranças,
    palavras e músicas que te trazem a mim.

    Lugares que fomos me lembram seu rosto,
    e os que nunca iremos, relembram-me impossíveis planos
    Trazem-me ao chão os pés, e assumo meu posto,
    porém revivendo ainda as lembranças, que persistem sem danos

    Reminiscências que insistem em me dizer que não te esqueci
    Histórias intactas de um amor que já teve seu tempo de existir,
    Mas que me martelam na mente, dizendo que este amor embora não quer ir
    Querendo-me trazer de volta todos os momentos que contigo vivi

    Como esquecer esse inaquilatável amor?
    Cuja luz dispersava-se em tantas cores
    que nuances inéditas atribuíam-lhe maior valor
    e onde oásis se formavam banindo dores.
    Como apagar as memórias cravadas desse amor?


    Set/2012

29 julho 2012

Running in Bed: Love, desire and freedom in 70s NYC


The book is a beautiful novel about love and personal growth. It is a pretty nice and amazing report about the gay way life  in New York in 70s and early 80s. Memorable and sometimes melancholic, but pretty nice always. Beautifully with a clear narrative, without slushy despite of it  to touch in a delicate and painful matter as the first years of the AIDS.

Below, a delightful excerpt of the book:

“My favorite time was when everyone else was at Tea Dance, and we would go for walks, holding hands along the desert beach, bathed in the soft light of the setting sun. It was and incredible peaceful feeling; a sense of contentment settled over me as I watched the day end, secure in the knowledge we'd be spending the evening together - and the days and evenings that followed.” 

The author Jeffrey Sharlach bring us an exciting and nostalgic picture of New York in those years: love, freedom and aftermaths...





15 março 2012

O Horácio



Há coisas que lemos, vemos, assistimos, ouvimos ou presenciamos que não nos sai da cabeça, ou permanecem mais tempo do que outras, muitas vezes nos tirando o sono. O que devemos fazer com isso? Simples: botar pra fora!

Assim, boto pra fora aqui – da mesma forma que fiz com o filme “Natimorto” - a peça teatral que assisti neste último sábado, dia 10/03: O Horácio, de Heiner Muller, em montagem concebida pelo grupo Teatro de Riscos (Faculdade Barão de Mauá-Ribeirão Preto-SP), direção de Carlos Canhameiro.

Fui ao Espaço “A Coisa” para a madrugada literária, esquecendo-me de que haveria antes, uma peça teatral. Chegando lá, gostei de ser lembrada da existência da peça, sobre a qual fui me inteirar no folder das apresentações do mês: título: Horácio, de Heiner Muller.

Confesso que não esperava um grande espetáculo, não conhecia o grupo e nem a peça, não havia ouvido nada sobre a apresentação. Já tinha ouvido o nome do autor, porém nada conhecendo sobre sua obra.

Começa a peça.

Sucedem-se as cenas, cada uma melhor e mais surpreendente do que a outra. A atuação e profissionalismo dos atores – ainda estudantes de teatro - chama a atenção. A peça mostra-se diferente. Não sei que tipo de teatro é aquele. Como os atores narram a história com distanciamento, sucedendo-se nos papéis, puxei na memória algo que li há muito tempo sobre ser assim o teatro de Brecht. Pensei, será?

Logo no início, ovos são digeridos por uns e regurgitados por outros no chão.. No decorrer da peça garrafas de vinho são entornadas na boca e nas cabeças dos atores. O cheiro do ovo cru paira no ar. As camisas brancas dos rapazes e os vestidos das moças, imundos de ovos e vinho desfilam sob os olhares curiosos da platéia. (que por sinal, comportou-se muito bem, dado que estamos numa cidade interiorana, caipira, até)

A cumplicidade e a química entre os atores são incríveis. Nota-se o afinco e a seriedade com que trabalharam para que essa montagem que acredito ser experimental fosse bem sucedida – e foi – sem dúvida alguma. Vê-se aí, a formação de verdadeiros, jovens e grandes atores despontando e alavancando o teatro nacional gerado no interior para uma ousadia certeira.

No final da peça, Horácio, nu, despido da glória e da vilania, atira uma melancia (seu próprio corpo morto?) que se espatifa no chão e é devorada pelos atores. Segundos depois, um frango cru também é atirado e destroçado pela turba. A surpresa e a catarse dessa cena foram sem precedentes no meu - não muito extenso - currículo de espectadora teatral.

Mais adiante, farinha de trigo também é utilizada. A encenação é permeada por desdobramentos metafóricos que remetem como críticas à sociedade moderna e contemporânea, por meio de dança coletiva ao som de, por exemplo, Menina Jesus do Tom Zé e outras, cantada e instrumentalizada pelos próprios atores.

A peça termina. Não tenho palavras. Só choque e admiração. Em casa, busco informações sobre o grupo e a montagem.


Abaixo, a sinopse e os links que falam sobre a montagem:

Sinopse: As cidades de Roma e Alba estavam em luta pelo poder e ao mesmo tempo eram ameaçadas pelos etruscos. Para os exércitos não se enfraquecerem diante do inimigo em comum, os chefes decidiram que por cada cidade lutaria apenas um homem. A sorte determinou que lutasse por Roma, um Horácio; e por Alba, um Curiácio.
Os exércitos, ao perceberem que a imã do Horácio escolhido era noiva de Curiácio, indagaram se a sorte deveria ser tirada novamente, mas mesmo assim ambos mantiveram as escolhas e resolveram lutar. Horácio venceu Curiácio e ao voltar para Roma, glorificado, deparou-se com a irmã chorando pelo noivo derrotado. Indignado com a reação inesperada, Horácio enfiou sua espada no peito da irmã,silenciando todas as comemorações. Após essa atitude, os romanos tiraram da mão de Horácio, sua espada, e resolveram realizar um julgamento para decidir o destino do vencedor que também era um assassino.




http://rogerioviannatatui.blogspot.com/2011/10/porque-o-indigesto-as-vezes-e.html
http://www.baraodemaua.br/noticias/detalhar.php?idNoticia=1986
http://pt-br.facebook.com/events/248562908565062/?ref=nf
http://www.araraquara.sp.gov.br/noticia/Noticia.aspx?IDNoticia=3994
http://www.overmundo.com.br/overblog/horacios-curiacios-e-russos


14/03/2012