Como já disse Álvaro de Campos em 1935 (heterônimo que mais gosto do Pessoa):
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Não só as cartas Álvaro, os poemas de amor também o são.
- As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Concordo, pois o amor é ridículo! Ridículo e delicioso! Ah, e brega também!
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Com certeza, quem mais poderia ser ridículo do que alguém que nunca amou? E consequentemente nunca escreveu uma ridícula carta de amor? Ou um ridículo poema de amor? Ou ainda, um breguíssimo poema de amor?
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
Ainda estou nesse tempo Álvaro! Mas não escrevo cartas, escrevo poemas, breguíssimos!
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
Não são, ou melhor, são, mas é melhor ter memórias ridículas sobre de cartas de amor ridículas do que não ter do que se lembrar sobre o amor....não?!
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Todos os sentimentos esdrúxulos são ridículos
Todas as palavras esdrúxulas tem adjetivos semelhantes aos sentimentos esdrúxulos
O amor é um sentimento....
O amor pode ser uma palavra...
Logo...o amor é esdrúxulo?
Ridículo, esdrúxulo, brega ou sabe-se lá quais outros adjetivos o amor venha a ter, os poetas continuam a escrever cartas de amor, poemas de amor, ou sobre o amor. Não fugi à sina. Escrevi mais um poema...breguíssimo, de amor:
Reminiscências
Como
esquecer teu sorriso, tua voz, teu perfume
tua pele e
teus cabelos?
Como
superar esse amor que não se vai, e que sim,
resiste
aos meus apelos?
Por onde
ando procuro você,
e sem
perceber, ando em círculos sem fim
Revejo
fotos e vídeos, idéias e lembranças,
palavras e
músicas que te trazem a mim.
Lugares
que fomos me lembram seu rosto,
e os que
nunca iremos, relembram-me impossíveis planos
Trazem-me
ao chão os pés, e assumo meu posto,
porém
revivendo ainda as lembranças, que persistem sem danos
Reminiscências
que insistem em me dizer que não te esqueci
Histórias
intactas de um amor que já teve seu tempo de existir,
Mas
que me martelam na mente, dizendo que este amor embora não quer ir
Querendo-me
trazer de volta todos os momentos que contigo vivi
Como
esquecer esse inaquilatável amor?
Cuja luz
dispersava-se em tantas cores
que
nuances inéditas atribuíam-lhe maior valor
e onde
oásis se formavam banindo dores.
Como
apagar as memórias cravadas desse amor?
Set/2012
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