Depois de um longuíssimo tempo, eis-me aqui com mais uma memória de aventura mariliense. Da primeira para esta dei um grande salto: de 1990 direto para o fim de 1993 – quase no final das aventuras:
Em setembro de 1993 a faculdade organizou uma “excursãozinha” para irmos à IV Jornada Paulista de Biblioteconomia e Documentação e III Encontro de Bibliotecários de Jaboticabal e das Cidades Vizinhas.
Último ano da faculdade, quase formada, sentindo-me “A Profissional”, claro que eu queria ir ao evento, a despeito da crise pânico-hipocôndrica que tomava-me na época. Desesperada, eu não queria viajar e correr o risco de ter um ataque cardíaco em pleno congresso, assim, contei a “graninha” que havia recebido da bolsa de iniciação científica e marquei uma consulta em um cardiologista particular – Dr. Sidônio Quaresma, consultório na av. Rio Branco.
Não, não tirei esse nome de um personagem de Lima Barreto. Ele era o cardiologista da amiga da dona do pensionato em que eu morava. Eu sempre prestei atenção (e ainda presto) quando mencionam e indicam nomes de médicos...
Assim, sem ter que pedir indicação de médico a ninguém, lá fui eu me consultar pré-viagem com o Dr. Sidônio Quaresma (que por sinal, era um senhorzinho muito “fofo”, com aquele jeito dos bons médicos de antigamente). Claro que ele nada encontrou de errado com meu coração, apenas uma extra-sístole de fundo nervoso, receitando-me um ansiolítico fitoterápico, o qual não tomei por medo de que fizesse mal.
Mesmo não completamente convencida de que meu coração era saudável, parti em viagem com o pessoal da faculdade rumo ao campus da Unesp de Jaboticabal – local do evento.
Lá chegando, nos hospedamos no “Botinão”, ginásio municipal, cujo nome real era Ginásio de Esportes Alberto Bottino, daí o estranho apelido.
Ajeitando meu colchão, senti-me a verdadeira “mochileira” - dormindo no chão com amigas e dezenas de colegas de faculdade (havia alunos de todos os anos do curso e pelo que me lembro, de outras faculdades também) e tomando banho naqueles banheiros de atletas. Aquilo era fantástico!
No primeiro dia o ônibus da faculdade nos levou até o campus, que era fora da cidade, porém, no dia seguinte, não tínhamos como ir até lá, pois o “bus” havia ido embora e só voltaria para nos buscar no final do congresso. A cidade era pequena, existindo pouquíssimos ônibus circulares, só nos restando assim, pedir carona nas ruas.
No entanto, antes desse intento, tomamos um confuso e improvisado café da manhã no boteco que ficava atrás do “Botinão”.
Eu, preocupadíssima com a suposta fome que sentiria até a hora do almoço, devido ao fraquíssimo desjejum ingerido – um “filãozinho” com manteiga e um copinho de café preto – resmunguei o caminho todo até à avenida marginal aonde pediríamos a carona, incomodando algumas colegas que acharam sem cabimento eu preocupar-me tanto com uma fome que não sabia se iria sentir ou não. Essa era eu, naquele tempo.
E lá fomos nós. Postamo-nos na avenida marginal com os polegares em posição característica e, sem pudor algum, esperávamos por um carro abençoado que, sem medo, preconceito ou sabe-se lá mais o quê, parasse e desse carona para aquele bando de garotas. Não me lembro ao certo em quantas estávamos, mas creio que precisaríamos de uns dois carros.
Finalmente, pouco tempo depois, o abençoado veículo parou e carregou algumas de nós. Fui nessa primeira leva. A motorista era um bela morena de cabelos longos e lisos, e o carro, era algo parecido – senão ele próprio – com um jeep toyota muito velho. A música que tocava no “tape” era Nowhere Fast, tema do filme Ruas de Fogo (que eu amava!) com a maravilhosa Diane Lane!
A moça ia diretamente para o campus, pois fazia residência em Medicina Veterinária lá. Sentei-me com outras colegas no banco de trás, e, durante o trajeto, a música altíssima e o vento nos cabelos da linda motorista fizeram surgir na minha mente pensamentos os quais bloqueei imediatamente – tão "bobinha" era esta que escreve este relato - ao extremo de nem ao menos permitir-se sonhar com assuntos tão interessantes e pertinentes!
Sorriam caros leitores, pois tão pertinente e interessante foi o acontecido que lembro-me dele nos detalhes acima descritos após tantos anos!
Pois bem, chegamos à Unesp e passamos o dia lá, assistindo palestras, almoçando no refeitório dos alunos, passeando pelo campus e tirando uma soneca embaixo das árvores sob os olhares curiosos de quem passava – o que fez com que nos perguntássemos se aquele comportamento, num campus de uma universidade pública, em plenos anos 90, era algo realmente assim tão excêntrico!?!
Nós achávamos que não. (e eu continuo achando que não).
A noite, andamos pela cidade, comemos lanche no trailer da pracinha, fomos conhecer o “famoso” bar do DA (diretório acadêmico) da Unesp e passeamos num daqueles trenzinhos infantis pelas ruas de Jaboticabal, rindo, cantando, brincando e vivendo, embora eu continuasse preocupada com o meu frágil coração!
Dez./2010