21 fevereiro 2010

Antoine (continuação...)

O domingo continuava, na sua meia-luz... quase um escuro total. Os domingos da sua vida eram então assim: olhar as ruas da janela do apartamento e lembrar-se...Daqueles dias cuja atmosfera circundante quase beirava a glória e Antoine se sentia quase feliz: os três saíam sempre juntos - Antoine, Camila e Túlio. Eram os dois, os melhores amigos de Antoine. Nada os separava. Onde um estava, os outros dois estavam também. Os três dividiam tudo, e um completava o outro. Antoine se sentia feliz na companhia dos dois. Na companhia deles, Antoine se libertava do seu próprio universo, o que, pelo menos momentaneamente, o aliviava.

Camila e Túlio eram lindos, diáfanos e inocentes. Na companhia dos dois, viver era uma brincadeira. Viver era realmente viver. Junto deles Antoine vivia. E esquecia que viver era um grande esforço do qual queria se livrar. Esquecia-se do tamanho da angústia que sentia, e que os objetos da vida eram-lhe complicados demais, e que a vastidão do tempo era-lhe sufocante. O amor que sentia pelos dois era imenso, maior , maior...cada vez maior.

Amá-los era uma benção. Uma coroação. Um estar e um ser. Um mergulho na imensidão de ser. Sendo. Antes de conhecê-los, Antoine não sabia o que era viver. Aprendeu com os dois. E se orgulhava muitíssimo disso. Viver passou a ser seu lema. Até às últimas conseqüências - viver, viver. E ser...

O pequeno Antoine, cegado pela vida, e submerso na sua ânsia de viver, era um pequeno tolo, cujos pés se mantinham firmes no chão, mas os olhos enxergavam o impossível.

Antoine nada possuía do homem adâmico (1), o que por sua vez, não significava que o tinha transcendido - atingindo o objetivo máximo da criação. Não, ele ainda não havia sequer atingido o patamar do homem adâmico, o que talvez o isentasse de culpas. Camila e Túlio também não eram culpados, pois possuíam um forte álibi que os inocentava, porém ambos encontravam-se um nível acima de Antoine.

Antoine se considerava puro de atos e sórdido de pensamentos e, por Camila e Túlio iniciou uma espécie de luta. Uma luta vã, semelhante à todas as outras das quais havia participado. Porém, desta vez a batalha estava ganha, Antoine afirmava mudamente para si mesmo.     (continua...)

Nenhum comentário: