Antoine era sóbrio, era um homem muito sóbrio. Sua sobriedade atingia sua vida, porém não os seus atos. Ela estava guardada, na verdade, trancafiada, para que não o atrapalhasse na sua luta, pois ela o atrapalharia: Ah sim, atrapalharia! E muito! Assim ele pensava.
Antoine sentia dores como quem come o mundo, ou à medida que comia o mundo, ou melhor ainda, à medida que se sentia comido pelo mundo. Mas ele sabia que algo o salvaria, ele aguardava o seu arrebatamento por aquilo ao qual ele esperava há muito tempo. Ele estava cansado, mas a vã batalha não podia ser abandonada...jamais!
Antoine, durante toda a sua vida ansiara por amor. Mas, mais do que só amor, ele ansiava por cumplicidade. Com Camila e Túlio, finalmente, encontrara o que tanto procurava. Embora nada fosse realmente suficiente, pois Antoine teoricamente não conhecia o limite das coisas e dos sentimentos; tudo caminhava como grande parte dos seus desejos, sendo que febrilmente tudo se concatenava, e o êxtase desencadeado era pleno, puro e real.
Ah! Os dias de glória!!!! Quantos eles foram! Quantas e quantas vezes Antoine deleitou-se e oniricamente se completou na companhia dos seus dois amigos! Camila era o mistério, era o desconhecido que se revelava aos poucos; e que o atraía pela sabida impossibilidade do seu desvelamento total. Túlio era o conhecimento partilhado, o amor e a “philia”(2).
Os gloriosos dias voavam, tantas eram as sensações, que não mais sentia a passagem deles...todos eram um único e deslumbrante dia! Dias de amor, dias de vida, que deslumbravam conscientemente o pequeno Antoine.
Um dia, porém, o derradeiro dia chegou. Chegou junto com a brisa suave, com o sol morno e ofuscado. E Antoine soube que era o dia derradeiro. O dia em que perderia a sabida vã batalha. O dia em que ganharia a si mesmo? O dia que talvez trouxesse mais dias...
Ao longe estava Camila, apesar da distância, podia ver que estava sorrindo, com seus cabelos desalinhados e as unhas roídas, porém bonitas.
Túlio também estava longe...muito longe...não podia ver suas feições nitidamente, mas sabia que era ele. Ambos estavam longe de Antoine, mas a uma pequena distância um do outro. Antoine estava só...a uma grande distância...a observá-los. O que devia ser feito? O que deveria ser feito? Amá-los. Des-amá-los... bem àqueles que o arrebataram? Deveria retornar à sua inocuidade? Sim ou não? Perguntava-se desesperadamente.
Nenhuma atitude planejada tomou, e um acordo tácito entre ele e “os outros dois” se firmou. Nunca mais saíram os três juntos – agora eram “os dois” e Antoine. Nada conversaram, só o abismo se insinuou no dia derradeiro, e aí se instalou, para nunca mais se estreitar.
Acordando das doces lembranças, Antoine chorou. Enxugou as lágrimas e decidiu-se por esperar.....dando continuidade à grande espera.
1995-2000, 2004
2 comentários:
Montanha-russa de sensações... fiquei zonza!!!
Eu tb fiquei quando escrevi...ou melhor eu era zonza qdo escrevi...há muito tempo atrás..hehe...bjos!
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