25 dezembro 2009

O Poder da Poesia

Eu acredito no poder da poesia. E acreditava, convictamente, no poder revolucionário de um poema. Acreditava, romanticamente, que um poema poderia revolucionar mentes e corações. Nisso, não acredito mais. Porém, acredito ainda no poder da poesia. E acredito também, agora, no seu poder evolucionário. Um poema, comprovadamente, pode evolucionar a mente e o coração de quem o concebe...e quiçá, de quem o lê...

25/07/09

20 outubro 2009

"Coração-Navio" aportando em Minas...

Poema "Coração-Navio" (postado há tempos no blog) foi um dos selecionados no concurso "Pão e Poesia, em qualquer esquina, em qualquer padaria", de Belo Horizonte.


Os poemas serão publicados em saquinhos de pão e distribuídos em padarias da cidade.


http://paoepoesia2009.blogspot.com/

23 agosto 2009

VERMELHO-MUNDO

Foto: X-Ploring (Lomografia)


Árida terra
Esquecida no tempo
Varrida pelo vento


Cor sangue no céu
Solo vermelho-mangue
O olfato nos tange,
às raflésias de Bornéo.


Olfativa miragem
na seca mareagem
Parosmi-a-gem.


Olhar de sol
queimado
Coração ardendo
desolado
Corpo de terra
maculado


Derramam-se gotas
no duro chão.


Salgadas de dor
Reluzentes de fervor
Abaladas pelo amor


Transtornadas em flores,
parem rosas das dores.
Contrastes alvos de vida
no eterno retorno das
circunstâncias...


jul./2009


22 julho 2009

Memórias Marilienses de “aventuras”: festa no campus e passeio de caminhão-baú


Parece que foi ontem. Não me sinto tão velha! Na verdade, sinto que faz muito tempo! Embora eu continue não me sentindo tão velha! Mas, a despeito do meu sentimento em relação à passagem do tempo versus meu sentimento acerca de meu estado físico (velha ou moça, não importa); resolvi escrever contando as “aventuras” que vivi na faculdade – pois já estou começando a esquecê-las!

Esta foi uma primeira pequena aventura, mas que para mim, garota ingênua de 18 anos - todos os quais vividos numa cidade de menos de um terço do tamanho de Marília, foi um evento no mínimo, inusitado.

Em 1990, no primeiro ano da faculdade, eu e mais três colegas – duas da minha sala, e uma de outro curso, fomos à uma festa noturna no campus promovida pela própria faculdade, aonde haveria uma performance teatral e uma banda, tudo ao ar livre.

Como desde muito jovenzinha eu era uma apreciadora das artes em geral (apesar de viver na caipirice do interiorzão de São Paulo), a encenação, ali, tão próxima de nós, e depois a banda – esse mix de arte e balada foi de uma grande importância para mim! Finalmente eu estava vivendo! Com os meus dezoito inexperientes anos eu estava começando a viver! (Vida sem arte não é viver...)

Terminada a apresentação da banda, enquanto esta guardava seus apetrechos num caminhão baú de médio porte, ficamos numa pequena turma – cinco garotas e 3 garotos bonitões da faculdade de Medicina conversando e enrolando o tempo. Quando nos demos conta, já era quase meia noite e o último “buzum” para a cidade provavelmente já teria passado! Estávamos os oito a pé – até mesmo os bonitões-futuros-médicos! Pois, eu e minhas colegas unespianas estudantes de Biblioteconomia, e Fono, bem como a quinta garota - que não sei quem era e nem o que estudava; éramos, com inclusão desta última, suponho eu, todas durangas-sem-carro, e sem-namorados (as) motorizados.

Como voltaríamos para a cidade?

Enquanto caminhávamos do local da festa em direção ao portão da faculdade, discutindo como iríamos embora, alguém lembrou-se de que o caminhão da banda ainda não havia saído do campus. Voltamos e resolvemos pedir carona ao motorista!

Entramos todos dentro do caminhão e nos acomodamos entre as caixas de som e os demais badulaques da banda. Quando a porta se fechou: escuridão total! Não enxergávamos um palmo à frente do nariz! E lá fomos nós rumo à cidade (assim esperávamos!) nos equilibrando em cada chacoalhada e curva por onde ele passava.

Calma, calma, não fomos sequestrados pelo motorista! Realmente ele nos levou para a cidade, nos deixando em frente ao teatro municipal. Aberto o caminhão, fomos descendo um a um sob os curiosos olhares de alguns transeuntes.

De lá, decidirmos ir até uma outra festa, numa das repúblicas custeadas pela Unesp, aonde morava uma colega estudante de Biblioteconomia também. Com exceção da moça desconhecida, que pegou carona a pé conosco até a rodoviária, aonde pegaria um ônibus para São Carlos para visitar seu namorado (ela tinha namorado!), fomos todos até a festa. A pé, claro. Pelo que me lembro, um dos bonitões da Medicina não chegou a entrar, talvez por achar o local unespiano em excesso...

Não me recordo o nome do bairro aonde ficava essa república, só de que andamos bastante e fazia uma noite fria, e o local ficava próximo à praça do sapo, aonde parece que havia um enorme sapo de cimento. (Acho que vi o tal sapo, mas não posso afirmar com certeza, talvez tenha somente imaginado que o vi...).

E lá ficamos nós na festa. A casa era imensa, praticamente sem móveis. Deviam morar umas oito pessoas ali. Tomamos vinho, comemos mandioca cozida, rimos e nos divertimos muito. Alguns outros participantes que não nós seis, fumaram maconha. Eu, certinha e careta não vi e nem senti o cheiro da erva queimada! Só fiquei sabendo depois (admirada!) que havia fumantes de maconha por lá!

Findada nossa animação, com o sono batendo, fomos os seis embora, a pé. Todos me acompanharam até o pensionato aonde eu habitava e continuei habitando por todos os quatro anos de curso, na rua Álvares Cabral, número trezentos e pouco, no centro.

Os bonitões da Medicina, amigos de uma das meninas, acho que só os vi mais uma ou duas vezes. A moça desconhecida do namorado são-carlense (ela namorava!) nunca mais a vi também. Dela, lembro-me que senti uma espécie de inveja e admiração pela sua capacidade e coragem de ter um namorado e ainda viajar a noite para ir encontrá-lo no fim de semana – coisa que estava há anos luz de minha infantil e gauche existência de dezoito anos – eu, que ainda sequer havia experienciado a mais simples e natural expressão do desejo romântico-sexual: o beijo...

Jun/2009

07 junho 2009

Filme: O Leitor


Assisti recentemente ao filme “O Leitor”, e, a despeito da Kate Winslet ter ganhado o Oscar, senti uma grande vontade de assisti-lo (claro que principalmente por ela, independente da premiação, não posso mentir! hehe) pelo tema envolvendo amantes e leitura.

Não chorei, como algumas pessoas me disseram que o fizeram, mas, realmente o filme ficou na minha mente.

Kate está magnífica no papel da alemã sem instrução, tosca, rude, solitária e complexa ao mesmo tempo. Seu amor, ou seja lá o que for que ela sinta pela leitura e pelos livros me intrigou bastante. Ama romances mas não sabe ler. E, apesar desse interesse vital, não procura aprender a ler por grande parte de sua vida, preferindo que leiam para ela – mas, simultaneamente tem vergonha de não o sabê-lo, escondendo tal segredo a ponto de assumir uma culpa bem maior do que a que verdadeiramente lhe cabia durante o julgamento por ter sido guarda da SS. nazista. Loucura? Não sei, sinceramente! Penso que – numa análise talvez simplista (porque não?) e especulativa, seria a vergonha de não saber ler associada a um iminente e tardio sentimento de culpa?!

Mas, motivações da personagem à parte, o filme é lindo! A relação dos dois amantes entremeada de leituras é fascinante!

A outra questão que surge, desta vez relativa ao “menino” - seu comportamento durante e depois do julgamento de sua ex-amante nos impele a pensar se ele era simplesmente um covarde, ou tão sensível e apaixonado a ponto de respeitar o segredo da sua amada?! Ou ambos, talvez?

Arrependeram-se os dois – o menino e sua amante, das suas controversas decisões?

São por meio desses questionamentos que o filme se fixa em nossa mente....e alça a leitura e o ato de ler a uma onipresença em todo o filme; sendo, junto com os amantes, um terceiro personagem principal com voz ativa nas vidas dos mesmos.

Para quem ama, e para quem ama os livros e a leitura – um belo e tocante filme!


O Leitor (The Reader). Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, David Kross. Direção: Stephen Daldry. 2008.

11 maio 2009

INSÔNIA (brainstorm)

Quase adormeço. Quase. Mas o cheiro dela. O cheiro dela não me permitia fazê-lo. Suor e óleo de amêndoas. Inebriante. Fêmea. Pele doce. Morena e firme. Doce. Mistura agridoce e selvagem. Indefinível. E tão simples. Tão fácil. Tão difícil. Fêmea, e só. Complexa e abrangente. Desde a mais reles e tosca, à mais sublime e erudita. Fêmea. Impossível dormir. Naquele profundo oceano de sentidos, minha pele ardia. E a queria. Mais uma vez. Aturdido. E querendo. Sempre o querer. O profundo possuir. O penetrar. O despir. O gozo simples revestido. De quê? Do avesso exposto. Ah! O interior! O que há lá dentro? Queremos saber! Ver! E conhecer, e sentir e tocar! Mais uma vez. E mais uma vez. E mais uma vez! E sempre mais. O Fim? Parece não ter. Mas tem! Tem! Mas antes, mais uma vez!

Impossível dormir! Pensava na manhã de problemáticos dias úteis que me aguardava. E me reservava a realidade do mar de automóveis, pessoas, suores, mal-entendidos, entendidas e surpreendidas notícias do mundo. Doenças. Sujeira. Jardins. Flores. Água. Comidas. Cheiro e suor. Sempre. E a hora do adormecer novamente.

Ligo pra ela. Pro meu sono devolver. Ela não quer. Nem com rosas vermelhas à moda antiga! Ela quer ler. Não a mim. Livros vagos. Palavras de sedução não a convencem. Ação ela não permite mais. Ela não quer! E minha insônia continua. Penso em rosas de sangue. Nos espinhos que arranham e rasgam a pele. Penso em nós, banhados em sangue.

Sem perceber, adormeço. Sonho com amor. Amor. Sempre o amor. Amor é para os fortes. Que aguentam seu peso e seu tranco. Tranco, sim! Ele te derruba pelo sangue. Pelas rosas de sangue tatuadas na pele. Que arranharam meu corpo. Meu sexo. Minha mente. Insônia! Que arranham meu sono! Sono entrecortado. Sono sem descanso. Sono que joga o corpo no chão. E pisa.

Adormeço docemente pela manhã. O dia não é útil! Minha mente descansa e o corpo esquece da luta, dos arranhões. Livra-se do sangue. Suturados estão os rasgos da pele. Cicatrização. Benção da água morna. Sonhei que dormi. Sonhei que sonhei. Sonhei com rosas. Com espinhos inócuos. O sono veio. Devagar. E divagava o poeta. Sobre rosas.

10/05/09

01 maio 2009

Do Fundo do Baú

O texto abaixo, escrevi em 1990. Encontrei-o remexendo nos velhos "baús" que sempre mantemos por algum motivo, sejam eles matéria ou idéia.

O texto é bruto, não tem lapidação alguma, considero esses textos antigos como experimentos iniciais com a escrita...deste, gosto, porque algumas partes me vieram em sonho...e sempre gostei de idéias "meio" que oniricamente autopsicografadas...


Brincadeira ao Longe


Todos os dias olho a vida pela janela da sala. Vejo todo o verde que me cerca. Conheço cada milímetro da sua cor. Todas as tardes o mesmo vento varre a poeira árida dos meus olhos...então eu enxergo. Enxergo tudo o quanto existe aqui. Gosto da música natural que existe aqui, embora muitas vezes eu tenha querido ouvir uma artificial.
Gosto da arte. Gosto de toda a grande arte que me cerca, embora muitas vezes sinta que a arte está muito longe de mim. Gosto da primordialidade reinante aqui, sinto que a arte primordial é que é a arte real, pois é a sua base e o seu início.
Mas eu sinto que está errado, que há uma errância, um anacronismo nos momentos de minha vida. Desde que aqui vim morar, o tédio me sufoca, quebro-o observando a primordialidade que sempre amei, mas a sinto ditante de mim, as árvores são mais altas do que eu, o pasto é mais extenso que minha breve extensão, os animais são mais comunicativos entre eles do que comigo. Há uma inalcançabilidade na nossa fazenda, mas somente eu a percebo.
Olho meu filho brincando ao longe, tão distante da matéria primordial alcançada, mas ao mesmo tempo tão próximo dela bruta. Brinca com ela como se fosse um brinquedo qualquer. A simplicidade com que ele a toca é tão terrível que dói.
A grande pena é que não sou simples. Muitas noites eu durmo, muitas noites eu não durmo por causa daquilo a que eu chamo amor. Nem o que eu sinto é meu, o ser que se deita ao meu lado, que possui uma voz que sempre me embala, não é meu.
Sempre vejo meu filho brincando ao longe. O que me arde os olhos é que a beleza que procuro está na distância. A distância é tão bela como é belo tudo o que está perto. Sentindo isso, sinto que sou tão pobre como uma caixa de lápis de cor vazia.
Os meus lábios são salgados, mas quando ele me beija não os sente assim, pois engulo o sal antes de cada beijo. E o meu filho que sempre brinca ao longe nunca traz o seu brinquedo para perto de mim. Talvez pense que eu vá tomá-lo, por isso brinca sempre ao longe.
Quando me deito, imagino as estrelas, tendo a certeza que estão me olhando, apesar do telhado. E então sinto uma mão que passa pelo meu rosto. É meu marido, que sempre fala comigo numa linguagem que não entendo e que não sei se amo, pois não possuo linguagem alguma, possuo somente olhos, e uma enorme visão que talvez provenha deles.
Mas o céu que todas as tardes vejo pela janela da sala sempre existirá, e o meu filho sempre brincará ao longe, e eu o observarei da janela que é minha.


27.02.1990

06 abril 2009

Quarta Galáxia Poética

Hard Love Poem n. 2


Aos teus pés novamente,
desejando, me encontro

Tuas mãos novamente,
das minhas, se esquivam

Promessas, uma vez mais
insinuam-se, sitiam-me
e se escondem.

Em baixo de pedras.
de flores
de dores e
de novos amores

Tuas flores
Minhas dores
Teus amores

Ciranda de tempo
que o vento não faz.
Não desfaz, e para longe se vai.
Sem jamais, novamente...
Tuas mãos nas minhas,
uma vez mais.



21.05.08

23 março 2009

Texto Tosco ?

Tosco, tosco, tosco. Muito tosco. É esse meu escrito aí embaixo?!
Nem sei o que este meu filho é. Acho que uma crônica-conto ou vice-versa.

Só sei que eu o pari assim, de repente, prematuramente, toscamente.
O repentino parto assustou-me e fez-me pensar que algo que nasce tão rápido só pode ser tosco.

Será?

Usando e abusando da metalinguagem, digo:
Estes filhos, diferente dos filhos orgânicos, nascem porque querem.
Muitos nascem crescidos, "pulando" da mente da mãe ou do pai.


É? Pois é!


Após ler um outdoor no qual estava escrito (sobre celulares) "Além da Tecnologia", pensei, o que é isso? O que existe além da tecnologia? Para mim, só pode ser algo orgânico. Além da tecnologia seria a superação da mesma, ou seja, chegaremos na vida, ou além dela.

Além da tecnologia existe o orgânico. Nada de pânico. Eles nascem, crescem e morrem.
Da matéria à anti-matéria.

Além da tecnologia existe a anti-tecnologia, a não-tecnologia, a sua superação que é o imaterial, que é o além do orgânico. Ok?!

Mãe ingrata que sou. Filho tosco. Parido toscamente. Mas prole é. Ok?!

"Bendita é a Concepção das Proles!" (Pya Pêra, Pya Lima)

Frase mais verdadeira que esta, não há!

21 fevereiro 2009

Muito Além da Tecnologia

Charley era como os amigos o chamavam, mas seu nome era Charles.
Eu era um dos que o chamavam pelo apelido fresco. Mas ele não era fresco, só o seu apelido o era. Ele era jovem, lá pelos trinta e poucos anos. Bonitão, corpão, namorava um gata de vinte e poucos.

Saíamos sempre juntos, eu, Charley, Marcos, Pedro e o Marcelinho, o caçula da turma. Dos cinco, só Marcelinho ainda estudava. Fazia o último ano de Administração. Os outros quatro, nós, já éramos formados há pelo menos uns oito ou dez anos. Macacos velhos, ou velhas raposas, estávamos sempre passando nossas experiências ao Marcelinho, que adorava ser visto conosco – os experientes!

Dos quatro de nós já formados, e trabalhando há anos em nossas respectivas profissões, o que estava em situação boa, bem boa mesmo, era o Charley.

Formado em Propaganda e Marketing, trabalhava para uma grande agência de publicidade e já tinha feito alguns comerciais de sucesso na televisão, tendo até recebido um prêmio importante nessa área, com um comercial de uma marca de ração para cães que possuía um abordagem diferente na apresentação da importância dos nossos amiguinhos comedores de ração e, consequentemente, da importância da sua nutrição: mostrava vovozinhos e vovozinhas em diversos locais se divertindo com seus cãezinhos e alimentado-os com a tal ração. Nada de criancinhas e parquinhos com balanço.

Charley, e nós também, ficamos todos orgulhosos do sucesso que ele estava fazendo em sua profissão, no entanto, muito mais orgulhoso ficou ele do que nós, os outros quatro.
Não tínhamos certeza, mas desconfiávamos que a fama tinha-lhe subido à cabeça. Nunca conversamos sobre isso, pois éramos de certa forma toscos em análises de relações – fossem amorosas ou de amizade, mas nossas trocas de olhares diziam um ao outro que todos estávamos pensando a mesma coisa.

Acho que nós, os quatro, fizemos um acordo tácito sobre não discutirmos a situação de nosso amigo. O que foi um grande erro.

Charley de certa forma, apesar de continuar saindo conosco, estava cada vez mais distante de nós, estava totalmente bitolado em seu trabalho. Suas campanhas publicitárias eram seu único assunto, o que fez com que perdesse a gata linda que namorava há um ano. Um desperdício!

Uma noite Charley não apareceu no bar. Nem no bate-bola na quadra no sábado a tarde. Ficamos sabendo que estava trancafiado em seu escritório bolando uma campanha para uma marca de celular. Ele estava completamente neurótico, pois estava competindo acirradamente com um publicitário novo que acabara de entrar na agência, e que tinha recebido vários prêmios. Justo agora que ele era o “queridinho” da empresa.

Pois bem, a campanha do outro cara foi a escolhida pelo diretor da agência. Fez muito sucesso porque mostrou que é possível enxergarmos os benefícios intangíveis da tecnologia – existindo a possibilidade de vivermos “além da tecnologia”, observando as coisas belas e simples que estão ao nosso redor, sendo a tecnologia, apenas um acessório facilitador – pelo que entendi.

Charley não aguentou o tranco! Não entendi muito bem porque ele ficou tão sensível e mal devido ao sucesso da campanha do colega, mas, sua irmã que era psicóloga, nos explicou que a intangibilidade dos materiais de consumo já havia sido mostrada por Charley na propaganda de rações e ninguém havia notado isso. Nem ele mesmo! Por isso ele não se conformou com a própria falta de sensibilidade para ter percebido esse filão e ter aplicado o conceito na campanha dos celulares.

Isso foi o fim para nosso amigo. Até hoje não consigo entender a dimensão da gravidade disso tudo para Charley! Só sei que, no bilhete que escreveu antes de se atirar do vigésimo terceiro andar do prédio da agência, as duas horas da madrugada de uma segunda-feira, ele dizia que havia compreendido o que era “viver além da tecnologia”, e era isso que ele iria fazer.

21.02.2009