Charley era como os amigos o chamavam, mas seu nome era Charles.
Eu era um dos que o chamavam pelo apelido fresco. Mas ele não era fresco, só o seu apelido o era. Ele era jovem, lá pelos trinta e poucos anos. Bonitão, corpão, namorava um gata de vinte e poucos.
Saíamos sempre juntos, eu, Charley, Marcos, Pedro e o Marcelinho, o caçula da turma. Dos cinco, só Marcelinho ainda estudava. Fazia o último ano de Administração. Os outros quatro, nós, já éramos formados há pelo menos uns oito ou dez anos. Macacos velhos, ou velhas raposas, estávamos sempre passando nossas experiências ao Marcelinho, que adorava ser visto conosco – os experientes!
Dos quatro de nós já formados, e trabalhando há anos em nossas respectivas profissões, o que estava em situação boa, bem boa mesmo, era o Charley.
Formado em Propaganda e Marketing, trabalhava para uma grande agência de publicidade e já tinha feito alguns comerciais de sucesso na televisão, tendo até recebido um prêmio importante nessa área, com um comercial de uma marca de ração para cães que possuía um abordagem diferente na apresentação da importância dos nossos amiguinhos comedores de ração e, consequentemente, da importância da sua nutrição: mostrava vovozinhos e vovozinhas em diversos locais se divertindo com seus cãezinhos e alimentado-os com a tal ração. Nada de criancinhas e parquinhos com balanço.
Charley, e nós também, ficamos todos orgulhosos do sucesso que ele estava fazendo em sua profissão, no entanto, muito mais orgulhoso ficou ele do que nós, os outros quatro.
Não tínhamos certeza, mas desconfiávamos que a fama tinha-lhe subido à cabeça. Nunca conversamos sobre isso, pois éramos de certa forma toscos em análises de relações – fossem amorosas ou de amizade, mas nossas trocas de olhares diziam um ao outro que todos estávamos pensando a mesma coisa.
Acho que nós, os quatro, fizemos um acordo tácito sobre não discutirmos a situação de nosso amigo. O que foi um grande erro.
Charley de certa forma, apesar de continuar saindo conosco, estava cada vez mais distante de nós, estava totalmente bitolado em seu trabalho. Suas campanhas publicitárias eram seu único assunto, o que fez com que perdesse a gata linda que namorava há um ano. Um desperdício!
Uma noite Charley não apareceu no bar. Nem no bate-bola na quadra no sábado a tarde. Ficamos sabendo que estava trancafiado em seu escritório bolando uma campanha para uma marca de celular. Ele estava completamente neurótico, pois estava competindo acirradamente com um publicitário novo que acabara de entrar na agência, e que tinha recebido vários prêmios. Justo agora que ele era o “queridinho” da empresa.
Pois bem, a campanha do outro cara foi a escolhida pelo diretor da agência. Fez muito sucesso porque mostrou que é possível enxergarmos os benefícios intangíveis da tecnologia – existindo a possibilidade de vivermos “além da tecnologia”, observando as coisas belas e simples que estão ao nosso redor, sendo a tecnologia, apenas um acessório facilitador – pelo que entendi.
Charley não aguentou o tranco! Não entendi muito bem porque ele ficou tão sensível e mal devido ao sucesso da campanha do colega, mas, sua irmã que era psicóloga, nos explicou que a intangibilidade dos materiais de consumo já havia sido mostrada por Charley na propaganda de rações e ninguém havia notado isso. Nem ele mesmo! Por isso ele não se conformou com a própria falta de sensibilidade para ter percebido esse filão e ter aplicado o conceito na campanha dos celulares.
Isso foi o fim para nosso amigo. Até hoje não consigo entender a dimensão da gravidade disso tudo para Charley! Só sei que, no bilhete que escreveu antes de se atirar do vigésimo terceiro andar do prédio da agência, as duas horas da madrugada de uma segunda-feira, ele dizia que havia compreendido o que era “viver além da tecnologia”, e era isso que ele iria fazer.
Saíamos sempre juntos, eu, Charley, Marcos, Pedro e o Marcelinho, o caçula da turma. Dos cinco, só Marcelinho ainda estudava. Fazia o último ano de Administração. Os outros quatro, nós, já éramos formados há pelo menos uns oito ou dez anos. Macacos velhos, ou velhas raposas, estávamos sempre passando nossas experiências ao Marcelinho, que adorava ser visto conosco – os experientes!
Dos quatro de nós já formados, e trabalhando há anos em nossas respectivas profissões, o que estava em situação boa, bem boa mesmo, era o Charley.
Formado em Propaganda e Marketing, trabalhava para uma grande agência de publicidade e já tinha feito alguns comerciais de sucesso na televisão, tendo até recebido um prêmio importante nessa área, com um comercial de uma marca de ração para cães que possuía um abordagem diferente na apresentação da importância dos nossos amiguinhos comedores de ração e, consequentemente, da importância da sua nutrição: mostrava vovozinhos e vovozinhas em diversos locais se divertindo com seus cãezinhos e alimentado-os com a tal ração. Nada de criancinhas e parquinhos com balanço.
Charley, e nós também, ficamos todos orgulhosos do sucesso que ele estava fazendo em sua profissão, no entanto, muito mais orgulhoso ficou ele do que nós, os outros quatro.
Não tínhamos certeza, mas desconfiávamos que a fama tinha-lhe subido à cabeça. Nunca conversamos sobre isso, pois éramos de certa forma toscos em análises de relações – fossem amorosas ou de amizade, mas nossas trocas de olhares diziam um ao outro que todos estávamos pensando a mesma coisa.
Acho que nós, os quatro, fizemos um acordo tácito sobre não discutirmos a situação de nosso amigo. O que foi um grande erro.
Charley de certa forma, apesar de continuar saindo conosco, estava cada vez mais distante de nós, estava totalmente bitolado em seu trabalho. Suas campanhas publicitárias eram seu único assunto, o que fez com que perdesse a gata linda que namorava há um ano. Um desperdício!
Uma noite Charley não apareceu no bar. Nem no bate-bola na quadra no sábado a tarde. Ficamos sabendo que estava trancafiado em seu escritório bolando uma campanha para uma marca de celular. Ele estava completamente neurótico, pois estava competindo acirradamente com um publicitário novo que acabara de entrar na agência, e que tinha recebido vários prêmios. Justo agora que ele era o “queridinho” da empresa.
Pois bem, a campanha do outro cara foi a escolhida pelo diretor da agência. Fez muito sucesso porque mostrou que é possível enxergarmos os benefícios intangíveis da tecnologia – existindo a possibilidade de vivermos “além da tecnologia”, observando as coisas belas e simples que estão ao nosso redor, sendo a tecnologia, apenas um acessório facilitador – pelo que entendi.
Charley não aguentou o tranco! Não entendi muito bem porque ele ficou tão sensível e mal devido ao sucesso da campanha do colega, mas, sua irmã que era psicóloga, nos explicou que a intangibilidade dos materiais de consumo já havia sido mostrada por Charley na propaganda de rações e ninguém havia notado isso. Nem ele mesmo! Por isso ele não se conformou com a própria falta de sensibilidade para ter percebido esse filão e ter aplicado o conceito na campanha dos celulares.
Isso foi o fim para nosso amigo. Até hoje não consigo entender a dimensão da gravidade disso tudo para Charley! Só sei que, no bilhete que escreveu antes de se atirar do vigésimo terceiro andar do prédio da agência, as duas horas da madrugada de uma segunda-feira, ele dizia que havia compreendido o que era “viver além da tecnologia”, e era isso que ele iria fazer.
21.02.2009
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