20 abril 2007

Livros Viajantes

Adoro ler “livros viajantes”.
Mas o que são eles? Como o próprio rótulo diz, livros que nos fazem viajar...
Os meus preferidos são os de realismo fantástico (tipo Italo Calvino), os propriamente fantásticos (Tolkien), e os que não são nem uma coisa nem outra, mas que são pura literatura das boas, e igualmente viajantes , etc., etc.....
Listarei nesta seção os “livros viajantes” que já li e “viajei”.
Vou deixar também minhas impressões sobre cada um deles, mas sem consultar nenhuma fonte. Escreverei o que eu lembrar para mostrar que eles realmente me marcaram muito! (boa desculpa para uma “preguicinha” de pesquisar algo sobre os mesmos!)
Mas, brincadeiras à parte, acho realmente que, se nós nos lembramos bastante de um livro, é porque ele nos marcou, tanto por termos gostado dele ou por tê-lo odiado (quanto a este último, para mim será difícil escrever sobre algum, pois quando não gosto, não leio até o fim!)
No meu caso, os livros sobre os quais escreverei, me marcaram pelo seu encantamento literário e poder de proporcionar uma bela viagem!



A Montanha Mágica, de Thomas Mann

Bom, esse livro não requer apresentações, é um robusto clássico da literatura mundial.
Foi o primeiro livro de número avantajado de páginas que eu li. Minha primeira empreitada nesse tipo de leitura: 700 e poucas páginas. Li nuns dois meses e me encantei por completo!
Achei que Thomas Mann seria uma leitura difícil, mas não foi. Foi uma leitura completamente acessível para uma não-intelectual, mas medianamente voraz leitora como eu.
A história se passa em um sanatório para tuberculosos em Davos, na Suíça, antes da primeira guerra mundial.
Amei o personagem Hans Castorp! Acho meio brega dizer que nos identificamos com tal fulano-personagem, mas, realmente me identifiquei com ele.
Sua perfeita adaptação à vida do sanatório, relutando em deixá-la mesmo já estando curado, em detrimento da volta à sua vida de antes da doença foi totalmente compreensível por mim.
O sanatório se constituiu para ele num universo paralelo, aonde ele pôde amadurecer intelectualmente e aprofundar-se filosoficamente dentro de si mesmo. A sua estadia lá foi uma fantástica viagem emocional, intelectual, sensorial, filosófica, metafísica, e até mesmo amorosa.
Daí sua relutância em abandonar esse ambiente, ao qual ele se encaixou perfeitamente; aonde, além de pensar e sentir, ele só tinha que seguir as regras do sanatório, às quais ele estava inteiramente adaptado.
O sanatório tornou-se um mundo de sonhos, um refúgio do mundo real, pois se percebe no começo da obra que ele não possuía muitas aptidões para a vida prática e suas futilidades, sendo mais um contemplador-pensador do que um ator.
A ambigüidade sexual do personagem também é muito interessante. E é um aspecto que surge em outras obras do autor, como Morte em Veneza e Tonio Kroger.
Enfim, é um livro magnífico! Vale a pena lê-lo!

09 abril 2007

Livros

A LENDA DE MURASAKI


Estou lendo um livro chamado “ A Lenda de Murasaki”. É simplesmente viajante!
A história se passa no Japão medieval (séc. XI) e conta a vida de Murasaki Shikibu – a mulher que escreveu aquele que é considerado o primeiro romance da história da literatura mundial: “A Lenda de Genji” (Genji Monogatari), tornando-se um clássico da literatura japonesa.
A autora, Liza Dalby, estudiosa da cultura japonesa, a partir de fragmentos do diário de Murasaki recria a sua história.
Genji Monogatari conta a história do príncipe Genji, conhecido como o “Príncipe Brilhante”, cuja gentileza, romantismo e sensibilidade encantam quem a lê, e ao mesmo tempo recria o mundo aristocrático e social japonês da época.
As cópias manuscritas da história se espalham pela capital japonesa causando imenso sucesso; chegando à corte japonesa, cujo regente, também apreciando a obra, convida sua autora para ser dama de companhia da imperatriz – o que na época era a aspiração máxima das moças da classe alta japonesa.
A história é fantástica, pois nos mostra o modo de pensar do povo japonês, suas crenças, superstições (muitas!), tradições, costumes e sua sensibilidade poética!
Uma das coisas mais incríveis é que Genji tenha sido escrito por uma mulher numa época em que escrever era privilégio somente dos homens, sendo mal vistas as mulheres que se interessavam a aprender a ler e a adquirir cultura.

“Tanto por seu conteúdo como por sua extensão e qualidade literária, Genji Monogatari é considerada uma das obras mais influentes da literatura japonesa. Muitas pessoas a consideram o primeiro grande romance jamais escrito no mundo, isto no sentido moderno da palavra. Porém, vale notar que essa asserção é firmemente disputada, tanto por experts como por amadores.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Genji_Monogatari )

Naquela época era comum as pessoas de classe alta se comunicarem por meio de pequenas poesias chamadas waka!
Assim, o livro está repleto desses poemas, que Murasaki envia e recebe. São freqüentemente usadas metáforas com elementos do tempo (clima) e natureza para simbolizar seus estados de espírito. A poesia era utilizada também para celebrar alguma comemoração ou acontecimento importante na vida da corte.
A forma da poesia Waka consiste em 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º, 5 no 3º , 7 no 4º e 7 no 5°.
Os "waka", "poema" em japonês, foram desenvolvidos por aristocratas no século VI e consistem em estrofes de 37 sílabas, um pouco mais longos do que o tradicional "haiku" (conhecido como haicai fora do Japão), que é uma forma posterior. É, na realidade, uma waka truncada, de 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º e 5 no 3º.

Vamos à algumas Waka escritas por Murasaki:

“ Enquanto a vida flui, quem lerá – esse regalo para ela cuja lembrança nunca morrerá”

“ Tare ka yo ni nagarae te mimu kakitomeshi ato wa kie senu katami naredomo”



“Quando o som dos grilos esmorece na sebe, é impossível interromper o adeus do outono, como devem ficar triste...”

“ Nakiyowaru magaki no mushimo tomegataki akino wakare ya kanashikaru kana”



Waka que Murasaki enviou para sua prima Ruri:

“Enregelado pelo frio, meu pincel não consegue desenhar para você a imagem dos meus sentimentos”.


Waka enviado por Ruri como resposta:

“Embora não flua, continue a escrever; sua dor se afastará flutuando como o gelo na água”.



Uma waka sobre o ato de escrever waka, que ilustra bem o uso da waka na época e particularmente por Murasaki: (claro!)

“Toda ocasião, todo fenômeno natural, toda emoção, acendia uma waka em minha mente”



Agora, uma waka que achei particularmente muito bonito!
Ming-gwok, um chinês por quem Murasaki se apaixonou e com quem teve um caso, enviou para ela junto com um presente – uma caixa de pincéis chineses.
O barato é que ele já estava na China, muitos anos depois de eles terem se apaixonado e, devido à precariedade do envio de correspondências da época, ele imaginou que seu presente talvez nunca chegaria às mãos dela, daí esse poema:



Feiticeiro que cruza os imensos céus, procure aquela que não posso ver, nem em meus sonhos”
(lindo, lindo!)