16 março 2010

Antoine (Final!)

Antoine era sóbrio, era um homem muito sóbrio. Sua sobriedade atingia sua vida, porém não os seus atos. Ela estava guardada, na verdade, trancafiada, para que não o atrapalhasse na sua luta, pois ela o atrapalharia: Ah sim, atrapalharia! E muito! Assim ele pensava.

Antoine sentia dores como quem come o mundo, ou à medida que comia o mundo, ou melhor ainda, à medida que se sentia comido pelo mundo. Mas ele sabia que algo o salvaria, ele aguardava o seu arrebatamento por aquilo ao qual ele esperava há muito tempo. Ele estava cansado, mas a vã batalha não podia ser abandonada...jamais!

Antoine, durante toda a sua vida ansiara por amor. Mas, mais do que só amor, ele ansiava por cumplicidade. Com Camila e Túlio, finalmente, encontrara o que tanto procurava. Embora nada fosse realmente suficiente, pois Antoine teoricamente não conhecia o limite das coisas e dos sentimentos; tudo caminhava como grande parte dos seus desejos, sendo que febrilmente tudo se concatenava, e o êxtase desencadeado era pleno, puro e real.

Ah! Os dias de glória!!!! Quantos eles foram! Quantas e quantas vezes Antoine deleitou-se e oniricamente se completou na companhia dos seus dois amigos! Camila era o mistério, era o desconhecido que se revelava aos poucos; e que o atraía pela sabida impossibilidade do seu desvelamento total. Túlio era o conhecimento partilhado, o amor e a “philia”(2).

Os gloriosos dias voavam, tantas eram as sensações, que não mais sentia a passagem deles...todos eram um único e deslumbrante dia! Dias de amor, dias de vida, que deslumbravam conscientemente o pequeno Antoine.

Um dia, porém, o derradeiro dia chegou. Chegou junto com a brisa suave, com o sol morno e ofuscado. E Antoine soube que era o dia derradeiro. O dia em que perderia a sabida vã batalha. O dia em que ganharia a si mesmo? O dia que talvez trouxesse mais dias...

Ao longe estava Camila, apesar da distância, podia ver que estava sorrindo, com seus cabelos desalinhados e as unhas roídas, porém bonitas.

Túlio também estava longe...muito longe...não podia ver suas feições nitidamente, mas sabia que era ele. Ambos estavam longe de Antoine, mas a uma pequena distância um do outro. Antoine estava só...a uma grande distância...a observá-los. O que devia ser feito? O que deveria ser feito? Amá-los. Des-amá-los... bem àqueles que o arrebataram? Deveria retornar à sua inocuidade? Sim ou não? Perguntava-se desesperadamente.

Nenhuma atitude planejada tomou, e um acordo tácito entre ele e “os outros dois” se firmou. Nunca mais saíram os três juntos – agora eram “os dois” e Antoine. Nada conversaram, só o abismo se insinuou no dia derradeiro, e aí se instalou, para nunca mais se estreitar.

Acordando das doces lembranças, Antoine chorou. Enxugou as lágrimas e decidiu-se por esperar.....dando continuidade à grande espera.



1995-2000, 2004