Assisti ontem ao filme
Natimorto – adaptação do livro de mesmo nome de Lourenço Mutarelli e
dirigido por Paulo Machline.
Saí
do cinema ontem a noite e o filme ainda está na minha cabeça. Que ótimo, vocês devem estar pensando, isso
quer dizer que o filme é bom! Não sei,
sinceramente. Não é ruim, de modo algum e, se não sai da minha cabeça, alguma
coisa é, ou tem!
O
filme é muito depressivo, mas as idéias do personagem de Mutarelli (ele, além
de autor da obra também atua ao lado de Simone Spoladore) são fantásticas!
Realmente dariam um livro, como a própria personagem de Simone diz várias
vezes.
O
visual retrô – desde as roupas até a ambientação (um hotel decadente) – nos
remete aos anos sessenta - o que mais angústia e claustrofobia provoca.
Voltando
às idéias do personagem ao longo do filme, a história do seu primo que, quando criança cai num poço e se depara com sua própria
imagem na água – que ele julga ser a do monstro do poço, fazendo com que conclua que o monstro se assemelha a todos
nós, dá uma noção do que vêm por aí.
Obcecado
por tarot, ele faz a correspondência das fotos
de advertência ao fumo existente nos maços de cigarro com as figuras do
baralho, lendo o futuro em cada maço que compra – o seu e o da mulher com quem
divide o quarto de hotel. Inicialmente achei bem interessante a idéia, depois,
porém, comecei a achá-la irritante e cansativa, assim como sua profunda imersão no cigarro e no café,
além da “deprê” total.
O
filme é uma ode à escatologia, à fuga da vida, à negação do viver, à volta ao útero da mãe
protetora, daí o natimorto do título – o homem,
ao ver num dos maços de cigarro a foto de um bebê natimorto diz que este
é aquele que veio da não-existência e para ela voltou sem ser contaminado pela
vida, símbolo maior então, da pureza e também do seus anseios, já que ele próprio lamenta, ao que tudo indica, não ter
sido um natimorto.
Exageros
à parte, esse filme derruba anos de terapia à favor do bem-estar na vida. Ainda
bem que foi só um filme.
19/10/2011