03 agosto 2010

O beijo da loba

Conheci-a em circunstâncias propiciadas pela modernidade – sim, a internet. Um e-mail burocrático por mim enviado, seguido de intuição e curiosidade recíproca, e uma ousadia que eu não sabia possuir - facilitaram ao destino, o nosso encontro.

Entre jantares e cinemas, fui conhecendo-a. Ela era uma loba. De uma espécie inédita para mim - linda, inteligente, gentil e carinhosa.

Inacreditavelmente, um dia, cedendo à minha nova ousadia – pedir despudoradamente para ser convidada à uma taça de vinho -  vi-me em sua toca. Visto o perigo da empreitada, fui por ela advertida de antemão que eu correria riscos. Como a vontade de precipitar-me à situação tomava-me, optei por corrê-los.

Conduzida ora gentilmente, ora no limiar do seu instinto selvagem reprimido soltar-se dos grilhões da civilidade, fui levada às entranhas da sua toca, onde o abate seria inevitável.

Deitada em seu leito, sob seu corpo vigoroso, não havia escapatória. Mas, eis que, para minha surpresa, deu-me ela a opção de escolher ser devorada de imediato ou em outro dia à minha escolha. Apesar de ansiar ser comida naquele instante, o medo, talvez de ser uma “chapeuzinho” precipitada, fez-me optar por o sê-lo na próxima visita.

Acenando a cabeça, ela aceitou, tranquila, e, aproximando sua boca da minha, deu-me o mais concupiscente beijo que jamais provei.

E assim descobri que não se sai imune da toca de uma loba.


26/04/10