Entrei sozinho no elevador. A porta se fechou e imediatamente senti aquele perfume. Um delicioso e adocicado perfume. Tinha um final levemente cítrico, mas era indiscutivelmente doce. Adocicado sem exagero, na medida exata da doçura. Da doçura de uma mulher. Era um perfume feminino.
Lamentei chegar tão rápido ao meu andar. Queria mais tempo junto ao perfume.
Apesar de detestar elevadores – esses quartinhos fechados e claustrofóbicos que nos carregam pelas entranhas dos edifícios...mas que, em contrapartida, podem nos embriagar docemente com perfumes femininos – concentrando-os em seu espaço exíguo – eu queria permanecer dentro dele.
Dentro desses espaços que abrigam temporária, mas marcantes presenças de fêmeas, que nos atiram da realidade para um cálido e suave mundo de sonhos...
Lamentei chegar tão rápido ao meu andar. Queria mais tempo junto ao perfume.
Apesar de detestar elevadores – esses quartinhos fechados e claustrofóbicos que nos carregam pelas entranhas dos edifícios...mas que, em contrapartida, podem nos embriagar docemente com perfumes femininos – concentrando-os em seu espaço exíguo – eu queria permanecer dentro dele.
Dentro desses espaços que abrigam temporária, mas marcantes presenças de fêmeas, que nos atiram da realidade para um cálido e suave mundo de sonhos...
Lamentei terrivelmente não habitar o vigésimo sexto andar, e chegar tão rápido como cheguei, ao décimo terceiro. Meu andar. Décimo terceiro, número treze. Meu número da sorte.
Decidi ao dez anos de idade que este seria meu número da sorte. Somente mais tarde fui descobrir que ele era considerado um número de azar. Não me abalei. O número treze era o meu número da sorte. E ponto final.
No dia seguinte, o perfume no elevador lá se fazia sentir outra vez. No mesmo horário do dia anterior. Exatamente quando voltei do trabalho, direto para o décimo terceiro.
No primeiro dia do perfume, eu faltara na academia porque havia esquecido o par de tênis no apartamento. No segundo dia, faltei novamente porque esqueci não somente os tênis, mas a mochila toda!
Durante toda a semana, deparei-me, senti e aspirei o perfume no elevador. Deixei que ele me envolvesse, e passei a adormecer pensando na mulher que o exalava.
Faltei a semana toda na academia. Faltei também no curso de alemão e no bar com os caras do trabalho.
Na terceira semana, sentindo-o no elevador todos os dias ao voltar do trabalho, me dei conta da insanidade em que eu havia me colocado. Nem ao menos tentei descobrir a qual mulher aquele perfume pertencia!
Senti-me um tolo sem precedentes. Mas como libertar-me? Daquele perfume embriagante, que envolvia minha vida e a transportava para os braços de um amor grandioso?
Loucura! O que deveria eu fazer? Relacionar-me apaixonadamente com uma mulher e pedir-lhe que usasse o perfume? Se ela negasse, deveria eu implorar-lhe, ou, numa hipótese mais extrema, exigir-lhe o uso do perfume? E se ela o negasse veementemente?
Deveria então, eu mesmo usá-lo? E dormir envolto a ele; que assim, seria, meu perfume?
Maio/2008