23 março 2009

Texto Tosco ?

Tosco, tosco, tosco. Muito tosco. É esse meu escrito aí embaixo?!
Nem sei o que este meu filho é. Acho que uma crônica-conto ou vice-versa.

Só sei que eu o pari assim, de repente, prematuramente, toscamente.
O repentino parto assustou-me e fez-me pensar que algo que nasce tão rápido só pode ser tosco.

Será?

Usando e abusando da metalinguagem, digo:
Estes filhos, diferente dos filhos orgânicos, nascem porque querem.
Muitos nascem crescidos, "pulando" da mente da mãe ou do pai.


É? Pois é!


Após ler um outdoor no qual estava escrito (sobre celulares) "Além da Tecnologia", pensei, o que é isso? O que existe além da tecnologia? Para mim, só pode ser algo orgânico. Além da tecnologia seria a superação da mesma, ou seja, chegaremos na vida, ou além dela.

Além da tecnologia existe o orgânico. Nada de pânico. Eles nascem, crescem e morrem.
Da matéria à anti-matéria.

Além da tecnologia existe a anti-tecnologia, a não-tecnologia, a sua superação que é o imaterial, que é o além do orgânico. Ok?!

Mãe ingrata que sou. Filho tosco. Parido toscamente. Mas prole é. Ok?!

"Bendita é a Concepção das Proles!" (Pya Pêra, Pya Lima)

Frase mais verdadeira que esta, não há!

21 fevereiro 2009

Muito Além da Tecnologia

Charley era como os amigos o chamavam, mas seu nome era Charles.
Eu era um dos que o chamavam pelo apelido fresco. Mas ele não era fresco, só o seu apelido o era. Ele era jovem, lá pelos trinta e poucos anos. Bonitão, corpão, namorava um gata de vinte e poucos.

Saíamos sempre juntos, eu, Charley, Marcos, Pedro e o Marcelinho, o caçula da turma. Dos cinco, só Marcelinho ainda estudava. Fazia o último ano de Administração. Os outros quatro, nós, já éramos formados há pelo menos uns oito ou dez anos. Macacos velhos, ou velhas raposas, estávamos sempre passando nossas experiências ao Marcelinho, que adorava ser visto conosco – os experientes!

Dos quatro de nós já formados, e trabalhando há anos em nossas respectivas profissões, o que estava em situação boa, bem boa mesmo, era o Charley.

Formado em Propaganda e Marketing, trabalhava para uma grande agência de publicidade e já tinha feito alguns comerciais de sucesso na televisão, tendo até recebido um prêmio importante nessa área, com um comercial de uma marca de ração para cães que possuía um abordagem diferente na apresentação da importância dos nossos amiguinhos comedores de ração e, consequentemente, da importância da sua nutrição: mostrava vovozinhos e vovozinhas em diversos locais se divertindo com seus cãezinhos e alimentado-os com a tal ração. Nada de criancinhas e parquinhos com balanço.

Charley, e nós também, ficamos todos orgulhosos do sucesso que ele estava fazendo em sua profissão, no entanto, muito mais orgulhoso ficou ele do que nós, os outros quatro.
Não tínhamos certeza, mas desconfiávamos que a fama tinha-lhe subido à cabeça. Nunca conversamos sobre isso, pois éramos de certa forma toscos em análises de relações – fossem amorosas ou de amizade, mas nossas trocas de olhares diziam um ao outro que todos estávamos pensando a mesma coisa.

Acho que nós, os quatro, fizemos um acordo tácito sobre não discutirmos a situação de nosso amigo. O que foi um grande erro.

Charley de certa forma, apesar de continuar saindo conosco, estava cada vez mais distante de nós, estava totalmente bitolado em seu trabalho. Suas campanhas publicitárias eram seu único assunto, o que fez com que perdesse a gata linda que namorava há um ano. Um desperdício!

Uma noite Charley não apareceu no bar. Nem no bate-bola na quadra no sábado a tarde. Ficamos sabendo que estava trancafiado em seu escritório bolando uma campanha para uma marca de celular. Ele estava completamente neurótico, pois estava competindo acirradamente com um publicitário novo que acabara de entrar na agência, e que tinha recebido vários prêmios. Justo agora que ele era o “queridinho” da empresa.

Pois bem, a campanha do outro cara foi a escolhida pelo diretor da agência. Fez muito sucesso porque mostrou que é possível enxergarmos os benefícios intangíveis da tecnologia – existindo a possibilidade de vivermos “além da tecnologia”, observando as coisas belas e simples que estão ao nosso redor, sendo a tecnologia, apenas um acessório facilitador – pelo que entendi.

Charley não aguentou o tranco! Não entendi muito bem porque ele ficou tão sensível e mal devido ao sucesso da campanha do colega, mas, sua irmã que era psicóloga, nos explicou que a intangibilidade dos materiais de consumo já havia sido mostrada por Charley na propaganda de rações e ninguém havia notado isso. Nem ele mesmo! Por isso ele não se conformou com a própria falta de sensibilidade para ter percebido esse filão e ter aplicado o conceito na campanha dos celulares.

Isso foi o fim para nosso amigo. Até hoje não consigo entender a dimensão da gravidade disso tudo para Charley! Só sei que, no bilhete que escreveu antes de se atirar do vigésimo terceiro andar do prédio da agência, as duas horas da madrugada de uma segunda-feira, ele dizia que havia compreendido o que era “viver além da tecnologia”, e era isso que ele iria fazer.

21.02.2009

01 outubro 2008

Alguém conhece a Marisinha?

Marisinha, ex-cantora do teatro de revista nos anos 20 (do séc. XX), tornou-se mecenas de artistas e artesãos no interior paulista, após casar-se com um médico–cirurgião e rico fazendeiro de Ribeirão Preto.


Não se sabe como se conheceram, só é sabido que o médico, por volta de seus cinquenta anos, casara-se com a cantora Marisinha, quando esta encontrava-se no início do seu breve apogeu como artista.
Elegante mulata, de cujo nascimento, também pouco se sabe, aos 22 anos começou a ficar famosa no Rio de Janeiro devido à sua bela e sensual performance como cantora e atriz.

Com o casamento, largou a carreira artística e instalou-se numa ampla e confortável casa na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo; ainda nos anos 20, com o marido.
Lá, passou a incomodar a sociedade tradicional local, pois muitos se escandalizaram com tal união – jovem artista e mulata, casando-se com o cobiçado médico e fazendeiro (apesar de já cinquentão, havia permanecido solteiro até então), de tradicional família do interior cafeeiro.

Os saraus realizados na casa do casal tornaram-se conhecidos em todo o Estado. Sob o manto da pura boêmia, Marisinha era na verdade, uma inusitada patrona tropical das artes, adorada por uns, e odiada por outros.
Dela, diz-se, vários nomes da música popular brasileira de diferentes vertentes receberam o primeiro apoio e incentivo, bem como artistas plásticos com renomadas carreiras no Brasil e no exterior. Sem contar os inúmeros artesãos da região, que, com o seu mecenato, organizaram diversas feiras de artesanato itinerantes por todo o país.

Muitos a descrevem como puramente bondosa e caridosa, amante incondicional das artes, e desprovida de segundas intenções; outros, como uma grande boêmia viciada em ópio e colecionadora de amantes-artistas, os quais patrocinava com a fortuna do marido e nas barbas deste.

O que se pode afirmar com certeza, é que Marisinha tornou-se uma lenda e, como tal, possui diferentes versões.

Há os que afirmam que na realidade, ela viveu no início dos anos 70, sendo uma referência no incentivo à contracultura; abrigando em sua fazenda, hippies e artistas visionários da era de aquário, do Brasil e do exterior.

Marisinha foi tão marcante na cidade que há quem diga que, ainda hoje, no caminho da sua casa, no centro da cidade, até a fazenda, nas efervescentes noites do verão ribeirão-pretano, todas às primeiras quintas-feiras de cada mês, por volta das 20 horas, é possível ouvir a vibrante folia do “corso” que antecedia os seus famosos saraus, quando estes eram realizados na fazenda (os da cidade não possuíam datas definidas).



Apreciados leitores, depois de ler esta história, que até mim veio por meio de um sonho - a qual adornada foi, obviamente, com pitadas de imaginação; digam-me, por favor, alguém conhece a Marisinha?



set./2008

22 julho 2008

Sem Rótulos

Em alguns momentos, adormecer é como entrar numa espiral de palavras, num redemoinho de idéias, aonde muitas vozes falam ao mesmo tempo, ditando o que escrever.
Será isso a autopsicografia?




Jun/2008

20 julho 2008

A Grande Ternura

Ele lia.
E ela dormia.
Bela e diáfana,
sua amada se encontrava.
E ele então pensava,
no amor que os unia,
e acreditava que ele nunca terminaria...

Seu corpo, uma ternura invadiu,
Seus olhos, lentamente se abriram,
E de um sonho, ele todo emergiu.

Seu amor, em seus sonhos,
adormecida permanecia.
E ele, com a ternura a invadir-lhe o peito,
e as lágrimas a lhe encherem os olhos,
adormeceu...
E, mais uma vez, sonhou...

De sonho em sonho,
Pé ante pé,
De livro em livro,
E de vez em quando,
Ele espiava, discretamente,
Seu amor, ali, adormecida...
Talvez entorpecida,
avizinhada e avisada,
da sua imensa ternura.
Ternura que em seus sonhos
a colocava,
Que de seus sonhos,
a retirava.

Ternura que lhe percorria o corpo,
desejando que o amor não acabasse,
que o amor começasse,
que o amor re-começasse.

Mas ali, adormecida,
lentamente esmaecida,
seu amor se mostrava,
e se prostrava...
a despeito de toda a sua ternura.
A despeito de todo seu desejo,
e de todo o seu grande amor...

De pé em pé,
Sono ante sono,
Quase até o sonho,
À cama, ele chegou, de pijama,
Com um livro na mão...

E a ternura, agora adormecida em seu peito,
Acalmava-lhe a dor...
De olhar para o lado, enquanto lia,
E ver que ali, nem acordada,
Nem adormecida,
Sua amada permanecia...


05.05.2007

05 julho 2008

Metavida

Vá meu amor,
Vá viver nesta vida.
Eu aqui continuarei...
Nesta construção descabida
Neste sonho de sonhos
Nesta casinha escondida
Onde nascemos, e eu viverei

Escolha, meu amor
Caminhos estreitos,
E em cada um, plante uma flor
Guarde as sementes dentro do peito
E plante novamente, quando chegar o momento

Vá meu amor,
E não olhe pra trás...
Mesmo sob dor,
Deite fora a nostalgia,
Mas mantenha na mente, a poesia
E no coração, a paz

Deixe-me a cá, meu amor
Colhendo dados e idéias
Mesmo nas noites, de estrelas, vazias
E nos dias também, de intensa ventania

Deixe-me a cá, meu amor
Formulando teorias, desconstruindo padrões,
alimentando ilusões, sonhando e experimentando,
Esta metavida, esta ida,
Sem volta talvez...

Mas, meu amor,
Não se preocupe, não se culpe
e nem se desculpe...
Apenas se cumprem, nossos desejos...
Apenas estamos, vivendo...


22.12.2007

27 junho 2008

Caliandra


Vem Caliandra,
Vem encontrar-me pela manhã,
Vem dar-me bom dia!
Vem oferecer-me tua mão,
Para que eu possa segurá-la,
e tua face, para que eu possa
Beijá-la.

Vem Caliandra
Vem comigo repartir
Tuas alegrias,
Vem a mim contar
Teus dissabores e
Mal-humores.

Bela Caliandra,
Vem florir minha sina,
Que minha vida
Já se esvazia...
Vem rápido, vem ligeira,
Que minha vida já não agüenta
Assoprar as cinzas frias da lareira.

Preciso Caliandra,
dos teus encantos,
E que em todo canto,
Deixes teu beijo doce e aveludado
Teu carinho e teu retrato
Enfeitando a lareira aquecida,
Renascida e adornada
De flores e de amores.

Vem Caliandra,
Vem sem medo, sem temor,
Vem tirar meu amargor
Vem em mim deixar a tua cor

Vem Caliandra,
Vem beijar-me com ardor
Vem sem máscaras e sem pudor,
Vem anoitecer no meu amor...

Ressonar no meu peito,
Abandonar-se em mim,
e eu em ti.
Misturando-nos ambas,
Em meio às flores do jardim...


Maio/jun.2007

“CORAÇÃO-NAVIO” *

De além-mar, sob o vôo das gaivotas, vêm o meu amor...
Na linha do horizonte, bem ao longe, avisto seu navio,
cujas brancas velas contrastam com o azul do céu...
Vem chegando lentamente, tal qual o hesitante, de descerrar um véu.


De além-mar, trazido pelos bons ventos, vêm o meu amor..
Traz nas mãos, a força da luta, e no corpo, cicatrizes de dor
Na mente, a decisão do seu destino,
e no coração... quem saberá, o que se passa em seu coração?


Sei apenas e tão somente, o que se passa aqui,
no meu peito ardente, que transborda de amor,
ao avistar, na tênue linha entre céu e mar,
a chegada do meu porto navegante...
em seu magistral “coração-navio”, célere e ofegante!


De além-mar, sob os auspícios benevolentes de Netuno, vêm o meu amor...
Além do mar, vêm aquele que tanto esperei, que em sonhos busquei
Muito além da lei do mar, em metapoético navio, vêm o meu amor,
aportando nestas terras prolíficas, abundantes de história e poesia...


Na torre de vigia, sua chegada já se anuncia,
entre trombetas e discursos, o seu nome me guia
Seus passos, de proa à popa, observo; seu olhar, tento decifrar.
Pela prancha adornada, descerá ele do seu “coração”...
ou terei eu, que escalar suas ameias?




* expressão usada por Nicolas Guto no poema “Ulisses”


Dez/2007-Jan/2008

31 maio 2008

O perfume no elevador

Entrei sozinho no elevador. A porta se fechou e imediatamente senti aquele perfume. Um delicioso e adocicado perfume. Tinha um final levemente cítrico, mas era indiscutivelmente doce. Adocicado sem exagero, na medida exata da doçura. Da doçura de uma mulher. Era um perfume feminino.

Lamentei chegar tão rápido ao meu andar. Queria mais tempo junto ao perfume.
Apesar de detestar elevadores – esses quartinhos fechados e claustrofóbicos que nos carregam pelas entranhas dos edifícios...mas que, em contrapartida, podem nos embriagar docemente com perfumes femininos – concentrando-os em seu espaço exíguo – eu queria permanecer dentro dele.
Dentro desses espaços que abrigam temporária, mas marcantes presenças de fêmeas, que nos atiram da realidade para um cálido e suave mundo de sonhos...

Lamentei terrivelmente não habitar o vigésimo sexto andar, e chegar tão rápido como cheguei, ao décimo terceiro. Meu andar. Décimo terceiro, número treze. Meu número da sorte.
Decidi ao dez anos de idade que este seria meu número da sorte. Somente mais tarde fui descobrir que ele era considerado um número de azar. Não me abalei. O número treze era o meu número da sorte. E ponto final.

No dia seguinte, o perfume no elevador lá se fazia sentir outra vez. No mesmo horário do dia anterior. Exatamente quando voltei do trabalho, direto para o décimo terceiro.

No primeiro dia do perfume, eu faltara na academia porque havia esquecido o par de tênis no apartamento. No segundo dia, faltei novamente porque esqueci não somente os tênis, mas a mochila toda!

Durante toda a semana, deparei-me, senti e aspirei o perfume no elevador. Deixei que ele me envolvesse, e passei a adormecer pensando na mulher que o exalava.
Faltei a semana toda na academia. Faltei também no curso de alemão e no bar com os caras do trabalho.

Na terceira semana, sentindo-o no elevador todos os dias ao voltar do trabalho, me dei conta da insanidade em que eu havia me colocado. Nem ao menos tentei descobrir a qual mulher aquele perfume pertencia!
Senti-me um tolo sem precedentes. Mas como libertar-me? Daquele perfume embriagante, que envolvia minha vida e a transportava para os braços de um amor grandioso?

Loucura! O que deveria eu fazer? Relacionar-me apaixonadamente com uma mulher e pedir-lhe que usasse o perfume? Se ela negasse, deveria eu implorar-lhe, ou, numa hipótese mais extrema, exigir-lhe o uso do perfume? E se ela o negasse veementemente?

Deveria então, eu mesmo usá-lo? E dormir envolto a ele; que assim, seria, meu perfume?




Maio/2008

14 abril 2008

Poema inspirado por...(alguém de olhos verdes?)

O verde nos teus olhos



O verde das matas nos teus olhos
É como o vento que faz curvar as árvores,
e que semeia as flores nos campos.
Cor das águas profundas,
que espelham a lua
nas noites serenas de amor


Cítrico olhar, que lentamente se adocica
Na agridoce e suave fragrância,
da lima e da rosa pimenta


O verde aquamarine dos teus olhos
esculpe na tua face, a beleza...
Por vezes, de singela pedra de jade,
por outras, de imperiosa tigresa...



09.04.2008

18 março 2008

Filme e Livro

Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....





Neste fim de semana assisti A Hora da Estrela, filme de Suzana Amaral sobre o livro da Clarice Lispector. Eu já havia lido o mesmo há muito tempo, mas o filme, vi pela primeira vez.
É impressionante e desconfortável a incômoda e despropositada vida de Macabéa, sem lugar neste mundo. Sua simplicidade extremada e seus questionamentos infantis e ao mesmo tempo, quase filosóficos, são estarrecedoramente apaixonantes e apavorantes. (“ Você é feliz?” pergunta sua colega de trabalho; ela responde: “Feliz serve pra que?”)
Um desconforto só!
No dia seguinte, continuei minha leitura de Matadouro 5, de Kurt Vonnegut. Uma incrível, satírica e sã loucura.
Resultado: adormeci pensando que Billy Pilgrim e Macabéa eram muito parecidos (não sei se minha embriaguez onírica contribuiu para isso, sendo esta idéia um delírio, ou se realmente eles têm alguma coisa em comum...); assim, os dois atormentaram meu sono e meus sonhos. Senti que precisava escrever sobre isso, senão, eles me atormentariam por mais tempo!


Talvez o que enxerguei em comum nos dois tenha sido o seu deslocamento em relação a um lugar na vida - ambos, cada um ao seu modo, são deslocados no mundo...e tem uma ingenuidade infantil - Mas isso ocorre de modos diferentes para os dois:

Macabéa vive a vida inconscientemente, quase como um animal irracional – ela é um ninguém que nem sabe que é um ninguém...
Sua existência, quase metafísica, se concretiza na sua morte prematura.

A vida de Billy Pilgrim também não o deixa confortável, e, de certa forma, ele sabe disso, pois passa a odiar a vida (mas infantilmente); principalmente após sua experiência na segunda guerra (é internado num hospital de veteranos com colapso nervoso, e cobre a cabeça nas visitas da mãe, pois tem vergonha de odiar a vida, uma vez que sua mãe a deu a ele...).
Antes da guerra, sua vida já não tinha muito sentido, depois, parece que o sentido vêm sem querer, com seu casamento com a moça rica, filha do proprietário da escola de Optometria aonde ele estudava antes da guerra. Casamento esse, decidido num momento de delírio do personagem, que nem sabia ao certo o que estava fazendo...(a moça era muito feia...e ninguém a queria).
Durante a guerra, sua apatia perante tudo - praticamente empurrando-o para a morte, só é barrada pelos colegas soldados, que o vão levando pra cá e pra lá guerra afora, salvando-o da morte.
Ainda não acabei de ler Matadouro 5, mas parece que a salvação principal de Billy (em relação a sua vida ter um sentido) vêm de sua relação com o planeta Tralfamador, cujos alienígenas o abduzem...(não se assustem....o livro é uma mistura de drama satírico sobre a segunda guerra – com ênfase ao massacre de Dresden, na Alemanha, e ficção científica...).

Bom, é isso, embora as duas histórias sejam loucamente diferentes e achar um ponto em comum entre seus personagens pareça um desvario sem precedentes, foi isso mesmo que enxerguei, Billy Pilgrim me lembrou Macabéa e vice-versa....

03 março 2008

Trilogia

TRILOGIA



Sol morno, brisa fresca, lembranças e caminhos
Ruas largas, sensações de outros tempos
Avenidas que conspiram com poetas andantes...
INSPIRAÇÃO



Papéis espalhados, computador ligado, programas abertos
Caneta a postos, sinalizando planilhas, dançando nos dedos
Uma pausa, um pensamento, um olhar, uma idéia...
CRIAÇÃO



Em meio às flores perfumadas, coloridos insetos passeiam
Poemas brotam, que surpresa, nos jardins da cidade
E os poetas acompanham, curiosos, o andar das joaninhas...
POETIZAÇÃO



27 e 28/02/2008

14 janeiro 2008

Livros Viajantes

O Fim da Infãncia, de Arthur Clarke


Descobri a existência do livro O Fim da Infância de Arthur Clarke numa lista de discussão de Gestão do Conhecimento, e minha curiosidade foi aguçada na hora!
Li e não me arrependi! É fantástico!
Nunca tinha ouvido falar no autor, mas descobri que ele é um autor de ficção científica famoso, tendo escrito 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Bom, por ai podemos ver que ele é da leva da boa Sci-Fi (não que eu entenda disso, mas pelo pouco que li sobre, fica-se sabendo...)
Bem, mas vamos lá. Não quero estragar a surpresa de ninguém, mas....rs.....lá vai a história:
O livro foi escrito em 1953 e a história inicialmente se passa nessa época também.
Nos anos 50 os Ets finalmente invadem a Terra e domesticam a humanidade!
É maravilhoso ler tudo de bom que eles aprontam por aqui. E tudo pacificamente, sem guerras! Um exemplo do que acontece é durante as touradas na Espanha. Todos que assistem ao touro ser martirizado também sentem a dor que o animal está sentindo!
É de arrepiar! Resultado: acabam-se as touradas!
O mundo todo se transforma numa grande e única nação. O preconceito racial e religioso é extinto; porém, sobre o sexual nada se diz...mas, vale lembrar no entanto, que o livro foi escrito em 1953!
O planeta então, vai caminhando prosperamente, sem fome, sem miséria, sem criminalidade, sem doenças, tecnologia de ponta a serviço de todos – o verdadeiro paraíso na Terra.
Porém, após 100 anos de boa dominação, descobre-se o verdadeiro propósito dos Ets, chamados de Senhores Supremos – levar embora do planeta todas as crianças.
No entanto, os próprios Ets cumprem ordens para a Mente Suprema (seria Deus?), desconhecendo os propósitos deste último.
Assim, com o fim da infância, têm-se simplesmente, o fim da humanidade e o fim do planeta!
Todas as crianças com idade abaixo de 10 anos começam a desenvolver estranhos poderes e aos poucos vão perdendo suas personalidades e vão se fundindo todas numa única mente que vai sendo alimentada com conhecimentos pela mente suprema (terá sido por isso a menção ao mesmo numa lista de GC?), e vão sendo levadas pelos senhores supremos para a tal mente suprema.
A todas que vão nascendo, acontece a mesma coisa, então, todos param de ter filhos e assim se acaba a humanidade!
Aterrador, fantástico e viajante!

23 dezembro 2007

Metapoesia

“La Metapoesía es una poética onírica. Metaonírica. Es una ficción paranoica del decir. La irracionalidad del deseo en la escritura. La psicosis de la palabra en el lenguaje: Metalenguaje. Es una necesidad analítica en el poema: Metapoema. El Poema no existe sólo existe el Metapoema” . (1)


Já há algum tempo que quero dizer algo sobre Metapoesia.


Metapoesia é um assunto que me atrai. E muito. Escrevi metapoemas sem saber que eram metapoemas (O Nascimento da Poesia e Poesia Explícita).
Recentemente, há uns 2 ou 3 meses atrás, lendo uma crônica do Ferreira Gullar, me deparei com a palavra Metapoesia.


Por não conhecê-la, me achei uma total desinformada; mas, no entanto, ao mesmo tempo, percebi que tudo era apenas uma questão de nomenclatura, de rótulos, pois a metapoesia já havia nascido dentro de mim, mesmo que eu não soubesse seu nome. (que romântico!)


Desde que a senti em mim, a nomeei como poesia sobre poesia.


Pois bem, poesia sobre poesia ou metapoesia, ou ainda , “a poesia por ela mesma” (2) é uma necessidade natural que se revela e se impõe no fazer poético, metapoesia não é uma escolha, é uma revelação! É o devir onírico da poesia...!


Em termos mais didáticos e menos poéticos, podemos dizer que a metapoesia desvela ao leitor, o processo criativo do autor. Isso pode ser demonstrado claramente nos metapoemas Autopsicografia e Isto de Fernando Pessoa, sendo o primeiro, um metapoema bastante conhecido. Vejamos abaixo, os dois metapoemas:



Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé.
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Segundo William Lial (3), acontece nestes dois poemas , “(...) o fenômeno literário da inter-relação autor/texto/leitor, que se trata da união entre a mente criativa do autor, somada a sua produção em texto (que já é uma interpretação da sua verdade), mais o complemento do leitor, que contribui com o texto através da sua própria interpretação.”

Assim, a metapoesia proporciona uma “viagem” metalingüística à mente do autor; aproximando este do seu leitor de maneira mais íntima, compartilhando, além do seu poema, o seu processo criativo.


Notas e Referência:

(1) Escuela-Movimiento Internacional Metapoesía (MIM): http://metapoetas.blogspot.com/

18 outubro 2007

Poemas no velho e amado papel...

Por mais que a net seja fantástica (e é), pois podemos expor por meio dela nossas idéias, escritos, poemas, etc...ter uma de nossas produções intelectuais publicadas no velho papel é sempre uma grande realização!

Participei do livro Antologia Dellicatta II e os
poemas Mostrei Calmaria à Maria e Indícios
saíram publicados nele!

Os mesmos podem ser lidos aqui; mas,
estão lá, registrados, até quando e quanto dure o papel!

18 setembro 2007

Terceira Galáxia Poética

Aqui vai um escrito que faz parte da minha Terceira Galáxia Poética; no entanto, é um escrito antigo...


A PALAVRA



Amor, palavra ambígua, palavra gasta que não mais designa (ou nunca o fez), aquilo que representa.
Já nos aconselhou o poeta para que não facilitemos com a palavra amor, que não a joguemos no espaço como bolha de sabão:

“Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro)” (...)
(...) ” Não a pronuncie”. **

Amor, palavra poderosa, que enche a boca de quem fala e o ouvido de quem ouve.
Faz voar a imaginação, ludibria seus incautos pronunciantes e reveste com fina pátina a carne desejante, que assim travestida, dá-se ao gozo.
Mas não se faz gozo, faz-se amor, porque isso sente quem ao gozo dá-se.
Mas, findado o gozo, por findar-se o desejo, se finda o amor.
Gozo curto, amor finito.
Não ouviram a voz do poeta.
Agosto/2004

** O Seu Santo nome, Carlos D. de Andrade

11 setembro 2007

Off Topic e Um Escrito Poético

Delírio de amor, utopia, sonho impossível....
Falar de amor é tudo isso...
Por mais que nos apaixonemos, estamos sempre sós...no nosso sentimento, no nosso amor...(sentir, amar, pensar, é um ato solitário - por mais compartilhado que ele possa ser)
O amor idealizado, cúmplice, até chega a existir, mas é efêmero - dura, enquanto dura a paixão....
Todos que já se apaixonaram (uma ou mais, ou muitas vezes!) sabem disso....
Mas porque então, ele dá tanto o que falar? Ou melhor, dá tanto o que escrever?

Porque, acredito eu, tanto quanto estar apaixonado, escrever sobre tal, é muito bom!

Bem, aqui vai mais um delírio...de amor....escrito.



UM NOVO OLHAR


Sonho com a paz do seu abraço verdadeiro.
Com a tranqüilidade dos teus olhos a observarem os meus.
Embora o amor não seja só redenção, sonho com o calor do seu toque de amor sincero entrando em minha vida.
Com sua voz doce a me sussurrar que o sol já está se pondo, que a lua já está alta e ilumina o nosso jardim.
Sonho com o teu meio sorriso a me fitar quando falo sandices exaltadas.
Sonho com o teu sorriso inteiro a me envolver quando falo algo com o qual concordas veementemente.
Sonho com o teu hálito se misturando ao meu quando cochichamos, mesmo estando somente nós dois, a fim de que nossas conversas configurem-se em segredos só nossos.
Sua calma recente e sua doçura sincera me enchem de desejo verdadeiro, de amor despertado, que outrora adormecido se mantinha, anestesiado pela secura dos teus antigos olhos.
Sonho com esse novo tempo,
com seu novo andar,
com seu novo olhar.




Abr.2007

Terceira Galáxia Poética

O NOVO MUNDO
(poema-narração-experimentação)



I – PROFETIZAÇÃO



Quando a sobrecarga elétrica
provocar a grande explosão
que iniciará o Novo Mundo,
todos os seres vivos libertar-se-ão
do peso corpóreo e adquirirão
a vontade de transcender a matéria.
Nos mares, nos ares e
na terra abençoada que surgirá,
cujos picos das montanhas serão
altares de louvores à vida e à criação,
poderão fazer sua morada.


Quando um novo sol
se formar no Novo Mundo,
e sua jovem luz brilhar,
todos nela poderão banhar-se.
Poderão deslizar pelo constante arco-íris tatuado no céu, e assim,
comporão em seus corpos, todas as cores do mundo!


Quando o que existe atrás
do horizonte se mostrar,
navegarão por mares e terras e ares
nunca d’antes percorridos.



No espetáculo do Novo Mundo,
acariciarão a cauda dos pássaros
e contemplarão o abrir das asas da garça branca.
Ouvirão o troar do amor,
que, no Novo Mundo,
espalhar-se-á epidemicamente


Verão o nascimento da árvore branca,
cujas folhas, enquanto brilharem,
sinalizarão o equilíbrio entre os seres
do Novo Mundo, e o próprio mundo.

Do ventre de todos os seres vivos,
seres semelhantes brotarão,
na comunhão de um único sexo!


Excerto – I

Como explicar (narrar) num poema,
O nascimento de um mundo?
Tal tarefa, de tão alta importância,
Não pode à mim ser outorgada,
E sim, a algum fulgurante poeta!
Pois eu, iniciante que sou,
Sem experiência no ofício,
Talvez não consiga dimensionar
A magnitude do fato....
Nem impressionar com meu ato,
De linguagem modesta (embora
Com certa eloqüência),
Os eventos acontecidos...


II – ANUNCIAÇÃO

Os tambores emitem clangores
bum bum bum bum bum bum
Os clangores são emitidos pelos tambores
bum bum bum bum bum bum bum bum

Protejam seus ouvidos
bum bum bum bum bum bum
Para não enlouquecerem
bum bum bum bum bum bum

Os tambores avisam
bum bum bum bum bum bum
Os clangores metem medo
bum bum bum bum bum bum

Lutem ou fujam
bum bum bum bum bum bum
refugiem-se nas montanhas
bum bum bum bum bum bum
pois os clangores estão mais altos
bum bum bum bum bum bum bum

O Novo Mundo está para nascer!
bum bum bum bum bum bum bum
quando cessarem-se as vozes dos tambores,
bum bum bum bum bum bum bum bum bum
a fuga não será mais possível
Bum bum bum bum bum bum

O Novo Mundo estará surgindo!
bum bum bum bum bum bum
só perecerão os contrários à sua ação!
bum bum bum bum bum bum bum bum


III – NASCIMENTO

No silêncio total,
rompe-se a terra,
rasga-se o céu,
o oceano vira terra,
e a terra vira água.
O sol mingua e lua se agiganta!
A neve cai e derrete, cai e derrete...
Os antigos ares são sugados para fora dos espaços terrestres,
muito além da borda do planeta, muito além do mundo sideral.

Muito além da nossa imaginação, o Novo Mundo começa a nascer,
das entranhas do infinito, ele surge e urge!
Muge e berra!
Grita o grito do recalque infinito, há milhões de anos guardado
na abissal garganta do mundo!
Dos ventres da mãe sideral e do pai astral que, fundidos,
formam o infinito gerador,
nasce o Novo Mundo!




Excerto – II

Como vc pôde ler, caro leitor,
Tal grandiosa tarefa,
Esta de narrar este evento monumental,
Precisei aceitar!
Dissuadir não consegui,
Aqueles que de tal tarefa me incumbiram!
Tampouco também consegui,
Arrumar outro poeta.
Mesmo que principiante como eu,
Para tal poetização!
Assim, nada mais me restou,
A não ser abraçar o intento!
Sonhar, imaginar, elaborar...
E escrever as letras.
(espero que a contento...!)



Nov./Dez.06 e Fev.07

23 julho 2007

Terceira Galáxia Poética

O mar é lindo de morrer! (e de viver)

Amo o mar.
Eu, que não sei nadar....
que só sei vagar,
que só sei pensar.

Amo o mar.
Apesar de não saber nadar,
de não saber remar,
e de só saber amar...

Amo o mar.
Eu, que não sei remar,
que não sei navegar,
que vago à deriva,
apesar da mão pousada sobre o leme...

Amo o mar.
E, apesar de não saber nadar,
mergulho fundo,
sem medo de me afogar.
No profundo oceano
dos sentidos.
Pois só sei amar...

Amo o mar.
Eu, que não sei navegar,
que só sei pensar,
que só sei doar...
o meu amor.
Para quem sabe
a vela içar,
e o leme manejar...

Amo o vento.
Que revolve o mar,
e que pode me levar,
se eu souber voar (já que não sei nadar),
aonde o azul do mar
encontra o azul do céu.

abril/2007

21 julho 2007

Off Topic: A ENERGIA MENTAL DO AMOR

Para onde vai a energia produzida pela mente?
Perde-se no ar, inaproveitada?
Essa questão me veio um dia, quando, totalmente desiludida com um amor não realizado, pensei: Quanta energia gasta em vão! Quanta energia para a conquista desse amor gasta à toa! Quanto desperdício!
Após essa “constatação”, imediatamente lembrei-me de uma notícia na televisão sobre uma Feira de Ciências, na qual alunos do segundo grau expunham suas invenções.
Uma delas me chamou a atenção, constituindo-se num invento bastante interessante, por meio do qual aproveitava-se a energia gerada numa academia de ginástica, mais especificamente, a energia produzida numa aula de spinning.
Não me recordo agora, como as garotas inventoras fizeram para aproveitar a energia, mas a idéia base é a mesma: como aproveitar toda a energia gerada numa aula de spinning? E como reaproveitar toda a energia empregada no pensamento? Neste caso, o pensamento direcionado para o amor (sabemos que a energia gasta nesse campo não é pouca!).
Viajando um pouco, acredito que neste segundo caso de reaproveitamento de energia, a complexidade deste intento seria bem maior que no primeiro caso; e, até já imaginei as pessoas apaixonadas e empenhadas na conquista de seus amores, usando capacetes contendo eletrodos que “puxariam” (sei lá como!) sua energia mental e a transfeririam para outro lugar.
Imaginem quantos anseios, dúvidas, suposições, planos de conquistas, ciúmes, decepções, frustrações, alegrias, realizações, medos, atração sexual, etc., etc., - tudo isso, muitas vezes, num único dia!
Quanta energia! Quantas usinas de energia ambulantes!
Para onde vai toda essa força energética? Perde-se totalmente? Como seria possível re/aproveitá-la?
Alguém tem alguma idéia?

Jun./07