Blog sobre poesias, poemas, criações literárias, gênese poética, cinema, livros, e, sem querer, "a vida, o universo e tudo mais....."
22 maio 2007
Terceira Galáxia Poética
Inspirada pela poesia “Calmaria” de Nicolas Guto *
Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à natureza sagrada.
E assim, lavasse sua alma
na água corrente dos arroios.
Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à memória de um passado talvez, cheio de alento,
mas que com o vento, se foi.
E assim, libertasse sua alma para o futuro,
mesmo que esse fosse de apenas um dia.
Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
aos confins de seu próprio coração,
e que lá dentro acendesse uma vela
e procurasse um sentimento novo,
uma nova razão e um novo irmão.
Mostrei Calmaria à Maria,
e pedi que a lesse como em romaria,
à jornada (para uns, curta; para outros, longa)
inevitável da vida e que, aportando na maturidade,
venha à porta lhe receber, a serenidade;
sorridente, apesar dos percalços da viagem.
14.03.2007
* http://nicolasguto.zip.net/arch2006-12-01_2006-12-31.html
15 maio 2007
Terceira Galáxia Poética
Construtos poéticos arraigados
na mente.
Arraigados na pele,
no cerne e no cérebro.
Poesia na carne!
Poesia na veia!
Madeleines afogadas no chá,
pisoteadas por uma mente
sem resquícios de lembranças...
Poesia Bruta!
Poema seco!
Num beijo salgado.
Um olhar surreal
para a poesia nascida
da secura do coração
que aguarda a temporada
das águas...
A coragem e a covardia
O medo e a insegurança
Num poema insano!
Em uma vida sem danos.
Uma vida.
Poucos planos.
Poesias que emergem.
Versos que se submetem
a explicitar a vontade
de um poema sujo
de um poema pesado
de um poema vigoroso,
pomposo, falacioso...
Por que não?!
Poesias, poemas, versos,
rimas, frases...idéias.
Círculo de vícios e tônicos.
Vigor da mente
que sente
a poesia latente!
Poesia que escuta
o coração ladrar
o corpo falar
a mente querer.
Poesia que bate,
que late,
e abriga
a vida nascida
e vivida pelo andar
da poesia surgida!
Poesia precoce!
Que se alimenta do leite materno
em terno aconchego.
No peito cheio, morde
e vibra, suga e se deleita!
Aproveita e adia
o crescimento da poesia premente!
Abrupto poema!
Nascido da primeira frustração
do primeiro desamor experienciado
em alienado universo.
Aos poucos exilado,
em ilhada literatura.
Profícuos poemas encontrados e
escritos à mão!
Poesia que tarda, que falha,
que amarga a boca
em escatológica sinfonia
com o desgaste da esperança.
Mas que cria e recria
a vontade da escrita.
E restaura a construção
do Poema Primal,
cuja subjacência conserva
em doce berço de inocência,
a vital intuição da escrita.
07.02.07
09 maio 2007
Terceira Galáxia Poética
COMO NÃO PENSAR
Para não pensar,
Escrevo e penso.
E deixo transbordar o que de mim me incomoda
O que em mim não existe
O que em mim,
Persiste.
Para não pensar
Transformo sentimentos em palavras
Sensações em versos
Obsessões em poemas
Dou forma aos sentimentos para não pensá-los
Construo poesias para não sucumbir,
Para não cair, para não desmontar
A milimétrica edificação da satisfação
(e da sanidade?)
Poetizo o karma
Amo pelos versos
Satisfaço-me na concepção das proles
E na “dura escritura”
Pensada para não pensar,
E salutarmente despejada no papel.
(salve o papel, a caneta e os computadores!)
Jan.e fev./07
20 abril 2007
Livros Viajantes
Mas o que são eles? Como o próprio rótulo diz, livros que nos fazem viajar...
Os meus preferidos são os de realismo fantástico (tipo Italo Calvino), os propriamente fantásticos (Tolkien), e os que não são nem uma coisa nem outra, mas que são pura literatura das boas, e igualmente viajantes , etc., etc.....
Listarei nesta seção os “livros viajantes” que já li e “viajei”.
Vou deixar também minhas impressões sobre cada um deles, mas sem consultar nenhuma fonte. Escreverei o que eu lembrar para mostrar que eles realmente me marcaram muito! (boa desculpa para uma “preguicinha” de pesquisar algo sobre os mesmos!)
Mas, brincadeiras à parte, acho realmente que, se nós nos lembramos bastante de um livro, é porque ele nos marcou, tanto por termos gostado dele ou por tê-lo odiado (quanto a este último, para mim será difícil escrever sobre algum, pois quando não gosto, não leio até o fim!)
No meu caso, os livros sobre os quais escreverei, me marcaram pelo seu encantamento literário e poder de proporcionar uma bela viagem!
A Montanha Mágica, de Thomas Mann
Bom, esse livro não requer apresentações, é um robusto clássico da literatura mundial.
Foi o primeiro livro de número avantajado de páginas que eu li. Minha primeira empreitada nesse tipo de leitura: 700 e poucas páginas. Li nuns dois meses e me encantei por completo!
Achei que Thomas Mann seria uma leitura difícil, mas não foi. Foi uma leitura completamente acessível para uma não-intelectual, mas medianamente voraz leitora como eu.
A história se passa em um sanatório para tuberculosos em Davos, na Suíça, antes da primeira guerra mundial.
Amei o personagem Hans Castorp! Acho meio brega dizer que nos identificamos com tal fulano-personagem, mas, realmente me identifiquei com ele.
Sua perfeita adaptação à vida do sanatório, relutando em deixá-la mesmo já estando curado, em detrimento da volta à sua vida de antes da doença foi totalmente compreensível por mim.
O sanatório se constituiu para ele num universo paralelo, aonde ele pôde amadurecer intelectualmente e aprofundar-se filosoficamente dentro de si mesmo. A sua estadia lá foi uma fantástica viagem emocional, intelectual, sensorial, filosófica, metafísica, e até mesmo amorosa.
Daí sua relutância em abandonar esse ambiente, ao qual ele se encaixou perfeitamente; aonde, além de pensar e sentir, ele só tinha que seguir as regras do sanatório, às quais ele estava inteiramente adaptado.
O sanatório tornou-se um mundo de sonhos, um refúgio do mundo real, pois se percebe no começo da obra que ele não possuía muitas aptidões para a vida prática e suas futilidades, sendo mais um contemplador-pensador do que um ator.
A ambigüidade sexual do personagem também é muito interessante. E é um aspecto que surge em outras obras do autor, como Morte em Veneza e Tonio Kroger.
Enfim, é um livro magnífico! Vale a pena lê-lo!
09 abril 2007
Livros
A história se passa no Japão medieval (séc. XI) e conta a vida de Murasaki Shikibu – a mulher que escreveu aquele que é considerado o primeiro romance da história da literatura mundial: “A Lenda de Genji” (Genji Monogatari), tornando-se um clássico da literatura japonesa.
A autora, Liza Dalby, estudiosa da cultura japonesa, a partir de fragmentos do diário de Murasaki recria a sua história.
Genji Monogatari conta a história do príncipe Genji, conhecido como o “Príncipe Brilhante”, cuja gentileza, romantismo e sensibilidade encantam quem a lê, e ao mesmo tempo recria o mundo aristocrático e social japonês da época.
As cópias manuscritas da história se espalham pela capital japonesa causando imenso sucesso; chegando à corte japonesa, cujo regente, também apreciando a obra, convida sua autora para ser dama de companhia da imperatriz – o que na época era a aspiração máxima das moças da classe alta japonesa.
A história é fantástica, pois nos mostra o modo de pensar do povo japonês, suas crenças, superstições (muitas!), tradições, costumes e sua sensibilidade poética!
Uma das coisas mais incríveis é que Genji tenha sido escrito por uma mulher numa época em que escrever era privilégio somente dos homens, sendo mal vistas as mulheres que se interessavam a aprender a ler e a adquirir cultura.
“Tanto por seu conteúdo como por sua extensão e qualidade literária, Genji Monogatari é considerada uma das obras mais influentes da literatura japonesa. Muitas pessoas a consideram o primeiro grande romance jamais escrito no mundo, isto no sentido moderno da palavra. Porém, vale notar que essa asserção é firmemente disputada, tanto por experts como por amadores.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Genji_Monogatari )
Naquela época era comum as pessoas de classe alta se comunicarem por meio de pequenas poesias chamadas waka!
Assim, o livro está repleto desses poemas, que Murasaki envia e recebe. São freqüentemente usadas metáforas com elementos do tempo (clima) e natureza para simbolizar seus estados de espírito. A poesia era utilizada também para celebrar alguma comemoração ou acontecimento importante na vida da corte.
A forma da poesia Waka consiste em 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º, 5 no 3º , 7 no 4º e 7 no 5°.
Os "waka", "poema" em japonês, foram desenvolvidos por aristocratas no século VI e consistem em estrofes de 37 sílabas, um pouco mais longos do que o tradicional "haiku" (conhecido como haicai fora do Japão), que é uma forma posterior. É, na realidade, uma waka truncada, de 5 sílabas no 1º verso, 7 no 2º e 5 no 3º.
Vamos à algumas Waka escritas por Murasaki:
“ Enquanto a vida flui, quem lerá – esse regalo para ela cuja lembrança nunca morrerá”
“ Tare ka yo ni nagarae te mimu kakitomeshi ato wa kie senu katami naredomo”
“Quando o som dos grilos esmorece na sebe, é impossível interromper o adeus do outono, como devem ficar triste...”
“ Nakiyowaru magaki no mushimo tomegataki akino wakare ya kanashikaru kana”
Waka que Murasaki enviou para sua prima Ruri:
“Enregelado pelo frio, meu pincel não consegue desenhar para você a imagem dos meus sentimentos”.
Waka enviado por Ruri como resposta:
“Embora não flua, continue a escrever; sua dor se afastará flutuando como o gelo na água”.
Uma waka sobre o ato de escrever waka, que ilustra bem o uso da waka na época e particularmente por Murasaki: (claro!)
“Toda ocasião, todo fenômeno natural, toda emoção, acendia uma waka em minha mente”
Agora, uma waka que achei particularmente muito bonito!
Ming-gwok, um chinês por quem Murasaki se apaixonou e com quem teve um caso, enviou para ela junto com um presente – uma caixa de pincéis chineses.
O barato é que ele já estava na China, muitos anos depois de eles terem se apaixonado e, devido à precariedade do envio de correspondências da época, ele imaginou que seu presente talvez nunca chegaria às mãos dela, daí esse poema:
Feiticeiro que cruza os imensos céus, procure aquela que não posso ver, nem em meus sonhos” (lindo, lindo!)
19 março 2007
Sobre Nossas "Crias"
Bem, depois parei de pensar nisso e só fui voltar a esta idéia quando li uma frase genial de Pya Lima (as vezes Pêra, etc.....) no seu blog, sobre a concepção das proles.
No caso dela, fotografias, às quais pariu em clicks apaixonados e os libertou para o mundo a fim de cumprirem seu destino premeditado (segundo Pya).
A frase “Bendita é a Concepção das Proles” contida no texto não me saía da cabeça e, para exorcizar esse mantra perturbador que ressoava em minha mente, escrevi a poesia “Bela Prole” (que faz parte da minha Segunda Galáxia Poética).
A própria frase de Pya já é, em si, uma cria, que por sua vez, gerou indiretamente outra: esta minha poesia.
Assim, a própria cria poderá vir a dar “crias”, independente da vontade de sua mãe, ou de seu pai!
Ou seja, nossas crias podem não ter um destino tão premeditado assim...
Bela prole
concebida
Bela prole
bem nascida
Bela prole
bem criada.
Bela prole
vai crescendo,
apanhando e
aprendendo.
Desgarrando e
transformando,
libertando e
liberando.
Que tua mãe
que te gerou
Muitos frutos
ainda dê
Que teu pai
que não existe
Seja o mundo
que te pariste
De um insight
bela prole
nasceu!
Elaborando,
Bela prole cresceu!
Bela Prole
bem criada
Boa prole tb dará,
para este mundo
sem fim, concebendo,
um dia, também estará.
Inspirando e ensinando,
pela vida vai andando.
Cantando, sorrindo ou
chorando, bela prole
vai sonhando e encantando.
Do mundo
minha prole é,
para o mundo
foi parida,
e nele, bela prole morará!
Adormecida ou acordada,
na mente de alguém
fará sua morada.
Bendita é a concepção das proles!!! *
concebidas, paridas,
nascidas e criadas.
Acatadas, refutadas
ou destrinchadas,
Benditas proles,
belas ou não,
abrindo-se como
leques coloridos
pelo mundo se vão!
* frase de Pya Lima
http://pyalima.blog.uol.com.br/
Dez.2006
Segunda Galáxia Poética
Experimento a poesia,
como quem experimenta uma receita culinária.
Experimento a poesia,
como uma forma de digerir emoções.
Experimento a poesia,
como uma fuga das emoções (como já disse um poeta)
Experimento o insight, a luz, a gênese, o parto,
a elaboração, a transmutação, a transcrição!
Experimento o mergulho no oceano profundo,
e a insana sanidade da exteriorização...
Excrescências de sentimentos marginais,
em puro estado bruto!
Requerente de elaboração, dilapidação e aprofundamento;
Para serem transcritos pelo centro nervoso da escrita!
Que exterioriza, expõe e mostra!
Analisa, persegue e gera,
vasculha indícios.
Percebe o que transborda
e o que se encolhe!
Explora, observa, descortina,
Vira pelo avesso
e sente,
como requerente,
a morte da matéria.
jul./e dez.06
Segunda Galáxia Poética
O que fazer
Quando o abraço não existe
O vácuo persiste
Os beijos se perdem
E a mente insiste?
O que fazer
Quando as mãos se esvaziam
Os olhares não existem
Os caminhos se desviam
E mente e coração insistem?
O que fazer
Quando os espaços se alargam
As intimidades inexistem
Os devaneios te abarcam
E mente, coração e corpo insistem?
O que fazer
Quando a ânsia persiste
As sensações insistem
O vazio não desiste
E a não-materialização resiste?
O que fazer?
O que comer
O que beber
O que deter
O que vencer
O que correr
O que mexer
O que escrever
O que viver?
O que?
12.10.06
16 março 2007
Segunda Galáxia Poética
Da Manchúria à luxúria,
do zelo ao apelo,
somos aves sem dono.
No abandono de nosso vôo
sugamos o hálito de zéfiro
e nos alimentamos de nosso
próprio sangue.
Falta-nos o pecado e a fé,
a coragem e a sensatez,
a verdade e a paz.
Da Manchúria voamos até aqui
e aqui estamos,
aqui nos abandonamos,
aqui nos instalamos,
e aqui procuramos nossas vidas.
No bater de nossas asas,
o pó levantamos, e dele,
renascemos, crescemos,
e ao pó voltaremos.
Mas não agora!
Nós, Aves da Manchúria,
milagrosas criaturas,
nas alturas abandonadas,
às alturas condenadas!
Nosso destino aceitamos,
e nele, criaremos nosso vôo,
nossas vidas, idas,
e vindas...
No mais belo céu,
cujo encanto
em qualquer canto persiste
e existe...
Seja Ocidente ou Oriente,
Poente ou Ponente,
na História ou na Literatura.
Somos agora,
aves do céu,
e nele, nosso vôo se abrirá!
20.11.2006
Segunda Galáxia Poética
Acima de toda razão,
De todo contrato,
De todo substrato,
Eis-me aqui, intacto!
Pronto para amar-te.
Beijar-te querida, e amar-te suavemente...
Amar-te querida, e beijar-te longamente...
Além de todo extrato,
Exacto no acto,
No pulo e no gato,
Viva o substrato!
Viva a razão,
O almoço,
E a visão!
Viva o amor
Viva o beijo
Viva o abraço!
E viva o Substrato!
Viva a razão do amor que lhe tenho,
Viva a razão do amor que não podes me dar,
Viva a nossa razão,
O nosso substrato,
O nosso contato,
O nosso tato!
Viva o tudo e o nada!
Viva eu e você!
E o nosso amoroso substrato,
não-exato e sem acto!
2006 (ago. e out.)
Segunda Galáxia Poética
Inspirou-me certamente, mas não inteiramente,
o seu olhar,
a sua tez,
o seu portar-se.
Os seus modos para comigo
foram o fio condutor
do meu desassossego
e do meu ardor.
Em mim ficou o seu cheiro,
e do sentir diário desse perfume,
nasceu inodora flor.
A marca do cego vagar,
da muda fala verborrágica,
cujas palavras escorrem vãs
e desprovidas de sentido,
perante o infinito que se agiganta.
A marca da surdez eloqüente,
que assim chega aos ouvidos do amor oponente.
Inspirou-me certamente, mas não inteiramente,
a sua vida,
as suas mãos,
e a sua companhia.
Inspirou-me para amar-te e para odiar-te.
Inspirou-me para desiludir-me de ti e de mim,
do discernimento e da razão,
da vazão,
do sim,
e do não!
26.10.2006 e
12.12.2006
15 março 2007
Segunda Galáxia Poética
Dia seco.
Manhã seca.
Sol queimando.
Pelas ruas ardentes os carros passam,
correndo, desviando,
xingando, atropelando,
Querendo!
Manhã ensolarada,
cansada, suada,
encarquilhada, iluminada!
Seca.
Dia seco.
Manhã tórrida.
Sol ardendo.
Pelos paralelepípedos escaldantes as pessoas passam,
andando, correndo,
Suando, ardendo,
Querendo!
Manhã clara do brilho do sol,
dos reflexos nos vidros dos carros e
nas pedras velhas do calçamento.
Pedras quentes de outra época,
De outras manhãs...
Também secas?
Dia seco.
Manhã ressecada pelo sol de muitos anos,
anos de luta e glória,
fortunas e fracassos,
experiência e cansaço,
descanso e esperança...
Dia seco.
Manhã de fogo-fátuo bruxuleante
pelas casas antigas que ainda mantém-se,
pelos resquícios dos velhos tijolos nas novas construções,
pelos velhos cimentos, que, unindo tijolos, abrigaram
vidas que já se foram.
Pedra e massa que agora presenciam dias secos, manhãs ardentes,
dias ressequidos, manhãs carentes.
Dia úmido
Manhã fresca,
um dia....
Out.2006
14 março 2007
Segunda Galáxia Poética
Quero descobrir
os segredos
que teus olhos
indiciam
Revolver sua placidez
e fomentar
tua rebeldia
Latente.
que se sente
transbordante
dos teus
olhos.
13 março 2007
Segunda Galáxia Poética
Suspensa está
a respiração
a vida
o tesão.
Suspensos estão
o amor
a cor
a dor
o valor.
Nessa meia-vida
refrescante é a brisa
doce é o pêssego fresco
suave é o perfume da maçã
Nessa suspensão
nada de novo se planta
mas o que se colhe
se não assusta, perturba.
Não se esconde, se mostra,
e aí, assusta!
26.10.2006
Poetrix
Esse tipo de poema lembra, pelo seu formato, o haicai em sua versão ocidental, conforme explicação de Ana Maria de Souza Mello (1):
“ O haicai é um poema japonês composto de 17 sílabas que nas traduções e nos originais ocidentais, vem distribuído em três versos de 5, 7 e 5 sílabas formando um terceto. O terceto é uma característica ocidental pois em japonês estes versos vêm escritos em uma única linha vertical ou horizontal. Originalmente sem rima, que é muitas vezes acrescentada na tradução.”
Já o Poetrix é um poema composto de título e uma estrofe de três versos, um terceto, com um máximo de trinta sílabas métricas.Surgiu em 1999, com a publicação do livro TRIX – Poemetos Tropi-kais, de Goulart Gomes, premiado com Menção Especial pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores – RJ, em 2000.
Segundo palavras do próprio criador: “O POETRIX tem sido chamado de "anti-haicai" ou "filho rebelde do haicai". Eu diria que ele é um 'herdeiro" do haicai, pela sua forma e um "herdeiro" dos micropoemas e poemas-minuto, pelo seu conteúdo. Mas, não esqueçamos que o terceto também tem uma tradição ocidental, oriunda dos terzettos italianos, praticados por Dante Alighieri. “ (2)
Poesia é sangue e suor
É o momento maior
Mesmo que em dor menor
Nada é o amor
Sem o grande temor
Das lágrimas
07 março 2007
Poesias Selecionadas
Lembrei-me dele esses dias e resolvi colocar aqui essa poesia.
Colocarei duas traduções para o português, uma de Fernando Pessoa e outra do brasileiro Oscar Mendes.
Gostei mais da tradução do Oscar Mendes, por causa, principalmente, da repetição da palavra ANNABEL LEE , semelhante ao original em inglês.
Essa repetição torna mais trágico e triste o poema, e lindo, muito lindo!
ANNABEL LEE
trad. de Oscar Mendes
Há muitos, muitos anos, existia
num reino à beira-mar, em que vivi,
uma donzela, de alta fidalguia,
chamada ANNABEL LEE.
Amava-me, e o seu sonho consistia
em ter-me sempre para si.
Eu era criança, ela era uma criança
no reino à beira-mar, em que vivi.
Mas tanto o nosso amor ultrapassava
o próprio amor, que até senti
os serafins celestes invejarem
a mim e a ANNABEL LEE.
Por isso mesmo, há muitos, muitos anos,
no reino à beira-mar, em que vivi,
gélido, de uma nuvem, veio um vento
matar ANNABEL LEE.
E seus nobres parentes se apressaram
em tirá-la de mim: encerrarem-na vi
num sepulcro bem junto ao mar,
que chora eternamente ali.
Foi inveja dos anjos: mais felizes
éramos nós aqui.
Sim, foi por isso (como todos sabem
no reino à beira-mar, em que a perdi)
que veio um vento, à noite, de uma nuvem
matar ANNABEL LEE.
Mas nosso amor, imenso, era mais forte
do que o tempo e que a morte,
do que a própria esperança em que o envolvi.
E nem anjos celestes nas alturas,nem demónios dos mares abissais
jamais minha alma afastarão, jamais,
da bela ANNABEL LEE.
Pois, quando surge a lua, em meus sonhos flutua,
no luar, ANNABEL LEE.
E, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
o olhar de ANNABEL LEE.
E junto a ela eu passo, assim, a noite inteira,
junto àquela que adoro, a esposa, a companheira,
na tumba, à beira-mar, no reino em que vivi,
junto ao mar que por ti
soluça eternamente, ANNABEL LEE.
http://umamericanoemlisboa.blogspot.com/2005/12/beira-marbeira-mal.html
ANNABEL LEE
trad. de Fernando Pessoa
Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.
ANNABEL LEE
Edgar Allan Poe
It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.
I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.
And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.
The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know, In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.
But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.
For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so,all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling, my darling, my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.
http://www.culturabrasil.org/pessoaepoe.htm
27 fevereiro 2007
Primeira Galáxia Poética
Ela foi escrita no calor do rompimento de um relacionamento (no qual eu levei o fora...)
Inicialmente ela estava projetada para ser uma poesia de amor para a pessoa com quem eu estava, mas, sentindo que a relação não ia bem, minha inspiração arrefeceu.
Então, deixei a poesia começada para ver o que aconteceria com ela mais para frente...
Assim, quando do rompimento, retomei a mesma e resolvei fazer por meio dela, um exercício de amor romântico.
Pode parecer pieguice extrema da minha parte, mas acho fascinante a poesia que idealiza o ser amado!
Dessa forma, escrevi a tristeza do rompimento a partir da idealização romântica.
No meio da poesia cheguei a tentar recuar, achando que estava exagerando, pois o relacionamento não havia me deixado perdidamente apaixonada; mas, esforcei-me para concentrar-me no exercício poético do amor romântico, independente da minha relação e do fora que levei.
E saiu essa poesia.
Escrevo poesia intuitivamente, sem me apegar a regras ou às escolas literárias, assim, qualifico essa poesia como amor romântico, mas não sei exatamente se ela se encaixa nesse rótulo de acordo com a literatura poética.
Entretanto, como poesia para mim é vida, intuição e inspiração, isso é o que menos importa!
VISLUMBRES (lírica de amor romântico)
Num vislumbre vi você.
Sua visão inundou meus olhos....
Mais tarde, meus sentidos todos.
Sua presença perturbou o meu estar, o meu dizer e o meu olhar,
e a sua emanante suavidade invadiu minha vida.
A cada estar seu ao meu lado, e a cada vislumbre da sua presença,
Enlevava-se e aguçava-se a minha mente...
Num desnorteio bom, feliz, preenchido de vida, e de diárias elucidações...
Meu corpo renascia todos os dias em que nos tocávamos,
no entrelaçamento premente de nossas vidas.
E agora eu sigo o seu perfume, que me persegue junto com o gosto de mel
imanente aos seus lábios e a doçura dos seus olhos...
Pequena bússola que norteia meus sentimentos, fonte de risos e sonhos bons.
Sonhos esses, desejosamente infindáveis, como o são os sonhos dos verdadeiros
poetas!
Sonhos de amar-te, sonhos de viver-te, sonhos sonhados com você, sonhos de
poeta que quer amar a amada desejada, sonhada, idealizada!
Sonhos de poesias repletas de amor sonhado,
Poesias sonhadas repletas de sonhos de amor...
Sonhos no entanto, são sonhos....
Amores sonhados, são sonhos...
Poesias são sonhos de poetas....
... e poetas são talvez, apenas sonhadores?
Cujos sonhos a realidade dura, crua e nua suplanta...
desconstrói, derrota, abalroa, desmantela!
Então, então, então...........................................
Olhando agora, apoiado em patamares outros...
Os seus doces olhos úmidos, perdidos e carregadores de noticiosas novidades do
porvir do amor, do porvir do depois, do porvir do que vêm....
Em seus olhos cintilantes, brilhantes e grandes, vislumbro os deflagradores do
acordar do poeta!
Do despertar dos sonhos sonhados vãos, que finalmente vão-se em sonhos
perdidos e despedaçados, ribombando ao vento em busca do nada.
Abril/Maio.2006
30 janeiro 2007
Filmes
Recentemente assisti O Novo Mundo de Terrence Mallick em dvd.
É uma versão de Pocahontas, aonde um marinheiro inglês chega nos EUA, mais especificamente no estado da Virgínia, para colonizar as terras, e se apaixona pela filha do rei de uma tribo de nativos; e a princesa também se apaixona por ele.
Seria mais uma adaptação dessa história de amor e colonização da América, não fosse o modo como esse filme foi feito.
São mais de duas horas de pura poesia! O ritmo é lento, com pouquíssimos diálogos. Mas não cansa! É uma grande poesia visual, com imagens belíssimas e possuidor de um lirismo fascinante!
Li críticas em sites de cinema de pessoas que o odiaram....essa reação é esperada por parte dos espectadores comuns, acostumados à mediocridade da televisão e dos filmes comerciais.
Como li num outro lugar e concordo plenamente, apreciar esse filme exige maturidade e sensibilidade do espectador, o que inexiste na grande massa homogeneamente insensível e sem cultura que assola nosso planeta!
Mas para aqueles cuja alma anseia pela elevação estética (no sentido espiritual), poesia, lirismo e até mesmo a metafísica, eis aí um belo filme!
Filmado com luz natural, proporciona um visão realística, causando mais fascínio ainda.
A atuação da atriz que interpreta a princesa nativa é uma atração à parte, doce, pura, cristalina!
É uma linda viagem de pureza e utopia!
Site Oficial: www.thenewworldmovie.com